São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995
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Começo hesitante

O governo de Mário Covas no Estado de São Paulo iniciou-se sob a marca da hesitação. Se é verdade que tem de enfrentar o perverso legado de seus antecessores —uma administração pesada, desorganizada e, frequentemente, acusada de corrupção—, é certo também que o governador paulista ainda não mostrou toda a determinação, coragem ou mesmo energia exigidas pela situação do poder público e pela própria sociedade.
Há sem dúvida providências corretas que vêm sendo adotadas, como a radiografia do funcionalismo estadual. Anos de empreguismo desenfreado, de manobras administrativas no mínimo discutíveis e de descaso para com setores essenciais do serviço público geraram distorções cuja magnitude era antes apenas suspeitada.
É fato também que muitas demissões vêm sendo anunciadas, o que poderia indicar uma animadora disposição de racionalizar o setor estatal. No entanto, os vaivéns e a insegurança nos números divulgados sugerem —para dizer o menos— falta de organização.
Mas o maior problema da gestão Covas até aqui sem dúvida está numa área que, esperava-se, viria impulsionar a reforma profunda do Estado: a privatização. O mandatário vem sinalizando que esse processo ficará restrito a setores e empresas menos importantes, não alcançando esferas de impacto efetivo sobre a estrutura do setor público. Essa posição pode até concordar com a sua imagem política tradicional, mas afronta promessas e compromissos de campanha, assim como as exigências da realidade concreta.
Deve-se considerar decerto que este é apenas o início do governo e que há muitos destroços do passado a serem removidos. Mas não se pode esquecer —e isto é fundamental— que o que se demanda hoje do chefe do Executivo paulista, ou de qualquer outro do país, não é só sanear o Estado, governando de forma proba e correta. É também promover reformas estruturais e buscar novos rumos para a administração pública.
Nesse sentido, infelizmente, Covas e a maioria dos seus pares ainda deixam muito a desejar.

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