São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995 |
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Novos tempos Nos últimos anos, os mercados financeiros latino-americanos conviveram com uma bonança de capitais externos oposta à escassez da década anterior. A crise mexicana inesperadamente pôs a nu a fragilidade desse tipo de ambiente. Mas antes mesmo dessa crise podia-se ler nos relatórios do Banco Mundial, do FMI ou da Cepal extensas e premonitórias advertências. A entrada de capitais abundantes, alertavam, é tão perigosa quanto a sua saída ou escassez. O exemplo brasileiro é eloquente. Afinal, atribuía-se a renovação de fluxos financeiros para a América Latina à liberalização comercial, à privatização e à desregulamentação. Mas o Brasil, mais fechado, até preguiçoso na privatização e na reforma do Estado, recebeu também uma avalanche de capitais. No centro do círculo virtuoso da nova onda de financiamento externo podia-se desde o início dos anos 90 identificar um mecanismo econômico-financeiro preciso, que os economistas denominam "arbitragem". Assim, o Brasil tornou-se receptor de capitais financeiros porque o Banco Central praticava uma política de juros elevadíssimos. Ao mesmo tempo, nos centros financeiros internacionais convivia-se com recordes de baixa nas taxas de juros. A "arbitragem" consistiu, portanto, nessa oportunidade de trazer recursos de fora para remunerá-los internamente. Na semana passada o Fed, banco central dos EUA, elevou pela sétima vez a taxa de juros nos últimos 12 meses. Observando-se os movimentos de capitais internacionais ao longo de 1994, é notório o gradual estreitamento das oportunidades de arbitragem. O retorno financeiro sobe nos centros internacionais. Na periferia, juros elevados associam-se novamente a riscos econômicos e políticos que até há pouco pareciam superados. De agora em diante, os investidores estarão mais ariscos, avessos ao risco e cautelosos diante das oportunidades que pareçam, do ponto de vista do cálculo financeiro puro, irrecusáveis. Fazer boa arbitragem será cada vez mais sinônimo, literalmente, de ter juízo. Texto Anterior: Começo hesitante Próximo Texto: A moeda real Índice |
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