São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Para Ruth, ser primeira-dama é um dilema

CLAUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA

Ruth Cardoso dedicou parte de seu tempo de ontem à discussão do papel das primeiras-damas com uma colega mais experiente: Maria Barroso, mulher do presidente português, Mário Soares.
As duas almoçaram no Palácio de Belém, sede da presidência portuguesa. Foi o primeiro encontro reservado que Ruth teve com uma outra primeira-dama desde a posse de seu marido, Fernando Henrique Cardoso.
Maria Barroso, 68, é primeira-dama de Portugal desde 1986. Ex-atriz de teatro, sempre teve uma atuação de destaque no país. Foi candidata a deputada pela oposição em 1969, mas só se elegeu para o cargo depois da Revolução dos Cravos, em 1974.
Elas se conhecem desde a época do exílio, na década de 70. "É uma velha amizade, daquelas que se faz nos tempos difíceis", disse Maria Barroso.
Antes do almoço, Ruth resumiu o dilema que, segundo ela, aflige atualmente as mulheres de presidentes: elas não têm existência legal nem atribuições claramente definidas, mas há expectativa de que tenham algum tipo de atuação.
Em sua avaliação, o poder decorrente da função nem sempre é um aliado para a implementação de determinados projetos.
"A Hillary fez um programa na área de saúde que eu considero muito bom, mas encontra resistências de natureza política para aprová-lo", disse Ruth, referindo-se à primeira-dama dos Estados Unidos, Hillary Clinton.
Na opinião de Ruth, se ela (Hillary Clinton) fosse uma simples assessora do presidente, talvez conseguisse implementar o programa com mais facilidade.
A antropóloga Ruth Cardoso confirmou ontem o estilo despojado que tenta imprimir à função de primeira-dama. Saiu da reunião da Comissão Independente sobre População e Qualidade de Vida, razão de sua viagem, diretamente para o almoço com Maria Barroso.
Ruth, que detesta comentários sobre guarda-roupa, usava um tailleur de linho xadrez e camisa branca muito semelhantes aos que vestia na sexta-feira. A bolsa e os sapatos pretos baixos eram os mesmos que usou quase todos os dias em Portugal.

Atraso
No final da tarde, a primeira-dama brasileira causou certo constrangimento no Palácio de Belém, ao chegar 25 minutos atrasada ao encontro do presidente português com a comissão independente, marcado para as 18 horas locais (15h, horário de Brasília).
Os convidados chegaram alguns minutos antes do horário e foram recebidos por Maria Barroso.
O cerimonial do palácio pretendia que o presidente só entrasse no salão onde foi realizado o encontro no momento em que Ruth chegasse. Mário Soares esperou até as 18h15, quando entrou no salão e posou para fotos com os integrantes da comissão.
Ruth chegou dez minutos depois. "Não aconteceu nada. Estava fazendo as coisas mais normais da existência, como tomar banho e lavar a cabeça", disse aos jornalistas. Ela usava saia longa e bolero de crepe de seda pretos com camisa creme de seda.
Depois do encontro, Ruth saiu de ônibus com seus colegas da comissão para uma volta por Lisboa.
Ela voltou ao Palácio de Belém à noite para assistir à cerimônia de condecoração do embaixador brasileiro José Aparecido pelo governo português. Ele foi homenageado com a medalha Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Ela voltou a falar ontem que há muita "pressa" na cobrança da atuação do governo na área social. Segundo ela, o Conselho da Comunidade Solidária está sendo estruturado e deverá começar a atuar na metade de fevereiro.
Ruth está em Portugal desde sexta-feira e volta hoje ao Brasil.

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