São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Guerrilha insuficiente

A Folha divulgou ontem novos cálculos que estimam um déficit do Tesouro Nacional em 95 de até R$ 15 bilhões. Por enquanto, o governo admite um rombo de "apenas" R$ 12 bilhões. Fato que já é suficientemente preocupante no início de um ano que deve ser marcado pelo desafio de transitar da âncora cambial para a fiscal.
De um lado, muitos observadores esperam ao longo de 1995 nada mais que a repetição da estratégia adotada, com algum sucesso, em 1994: conter as despesas na boca do caixa e combater a sonegação. De outro, prolongar esse tipo de gestão emergencial das contas públicas é também sinônimo de perder eficiência, isto é, credibilidade. Principalmente se o governo não acenar com providências mais radicais, o que passa pela reforma tributária, pela privatização e pela racionalização da máquina estatal.
Infelizmente, são por enquanto escassos os sinais de ousadia nessa área. O saneamento dos bancos estaduais, que poderia ser palco de avanços mais significativos no campo da privatização, conta com resistências mais ou menos veladas de governadores. Na esfera federal, por enquanto ouve-se com mais frequência pronunciamentos que relativizam a privatização ou adiam-na, como no caso da megaestatal Vale do Rio Doce.
O resultado prático é que os temas da reforma do Estado e da Constituição continuam envoltos numa névoa política bastante densa. Já há por exemplo quem defenda a reedição de um imposto análogo ao recém-finado IPMF.
Até o ano passado talvez se justificassem medidas de cunho transitório, pois se tratava afinal de um governo de transição. Do Fundo Social de Emergência ao IPMF, passando pelas manobras com o Orçamento e a contenção de despesas na boca do caixa, o chamado ajuste fiscal caracterizou-se sobretudo como uma guerra de guerrilhas.
Mas agora o momento histórico é outro. Não basta resistir ao populismo nas trincheiras da gestão cotidiana. É preciso sair em campo aberto e deslanchar uma batalha suficientemente dura e obstinada para que surja um novo regime fiscal, explícita e duradouramente superavitário. O governo, entretanto, reluta em mostrar as suas armas.

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