São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995 |
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Um lugar no mundo
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO — O mundo desenvolvido prepara-se para discutir, a partir da reunião de julho do G-7, a reforma das instituições internacionais.Reforma, de resto, necessária pela simples e óbvia razão de que a armação institucional concebida para o período da Guerra Fria tornou-se obsoleta com o fim desta, se é que alguma vez chegou de fato a funcionar. No caso do Brasil, com um presidente que se diz disposto a praticar a chamada "diplomacia presidencial, ou seja, a interferir diretamente na condução da política externa, eis aí a melhor chance de atuar. O governo brasileiro pode perfeitamente reivindicar participação nessa discussão. O Brasil, é verdade, não pertence ao G-7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha e Canadá). Mas a Rússia tem participado das reuniões mais recentes, o que na prática transformou o G-7 em G-8. Na conjuntura atual, não há razão forte o suficiente para que o Brasil não cave uma carona nessa reunião. A Rússia está mais confusa, economicamente, do que o Brasil e, no plano político, meteu-se em um formidável pântano com a crise da Tchetchênia. É sempre verdade que a Rússia leva sobre o Brasil a vantagem (ou desvantagem, conforme o ponto de vista) de possuir um formidável arsenal nuclear. É mais por ele do que por comiseração com as penúrias da transição do comunismo para o capitalismo que o G-7 convida os russos. De qualquer forma, o Brasil, assim como um punhado de países em desenvolvimento, pode reivindicar seu papel à mesa de discussões armado de outro tipo de bomba: a populacional. No ritmo em que vão as coisas, a população dos países pobres acabará por sitiar os ricos em seu próprio terreno de jogo. É verdade que, no fim das contas, sempre prevalece a posição dos mais fortes, em toda discussão internacional. Não se deve alimentar ilusões, portanto, a respeito da reforma das instituições planetárias. Mas o mínimo que os países em desenvolvimento, como o Brasil, têm a fazer é exercer o direito de espernear. O momento é agora. Texto Anterior: Educação vexatória Próximo Texto: Rolling Stones e a covardia Índice |
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