São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Rolling Stones e a covardia

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Sei vou fazer hoje o papel de chato ao comentar um detalhe da festejada passagem dos Rolling Stones pelo Brasil —fácil parecer ridículo quando se questionam ídolos consensuais. Paciência. O fato: eles mostram como é desigual a disputa entre a indústria do fumo e dos defensores da saúde pública. Chega a ser covardia.
Discutem-se, agora, restrições à publicidade de cigarro, determinadas pelo Ministério da Saúde. É difícil transmitir as advertências sobre os perigos do fumo, principalmente aos mais jovens. As campanhas antitabagistas não dispõem de uma migalha do dinheiro e da criatividade dos anúncios de cigarro.
Os Rollings Stones, símbolos da liberdade e da jovialidade, prestaram-se a ligar sua imagem ao cigarro. Do ponto de vista da indústria, é brilhante.
Não é só. Na frente da marca "Hollywood Rock" desfilam ídolos como Gilberto Gil, Lulu Santos, Rita Lee e assim vai. É uma mensagem sutil e poderosa. Na prática, eles dizem mais ou menos o seguinte: o fumo não faz mal, tanto que se dispõem a promovê-lo. O que é uma mentira.
O problema é que apenas uma elite lê, por exemplo, esta coluna ou demais artigos sobre o fumo —uma elite que, em sua maioria, já está informada. Nada parecido às gigantescas massas expostas à propaganda subliminar de jovialidade, liberdade, sexo e até saúde.
A partir daí, considero interessante um efeito colateral da proposta de Paulo Maluf de proibir cigarro nos bares de São Paulo —não entro, aqui, na discussão sobre a correção, legalidade e nem se o prefeito joga para platéia, num lance de marketing.
Mas Maluf ajuda a popularizar a discussão sobre as consequências do fumo. A verdade é que pencas de estudo sérios mostram que o não-fumante tem prejuízos em sua saúde por causa da fumaça alheia.

PS— Por falar em fumaça, mais uma vez os números do governo entram em discussão. Considerado um dos maiores especialistas em Orçamento, Aurélio Nonô, ex-secretário de Orçamento do Ministério do Planejamento e ex-assessor parlamentar de José Serra, conclui hoje estudo, afirmando que o déficit público é de R$ 16 bilhões —maior, portanto, do que o anunciado oficialmente.

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