São Paulo, quarta-feira, 8 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Racismo derrota Costa-Gavras

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Costa-Gavras sempre perseguiu as boas causas. O combate às ditaduras de direita e de esquerda lhe deu a fama que tem de um cineasta político eficaz.
Seu limite, porém, é o caráter razoavelmente epidérmico de seus filmes: "Z" conseguiu chamar a atenção para a desumanidade de uma ditadura latino americana, e o mínimo a dizer é que havia ali um sentido de ritmo e um talento inequívocos.
Antes que se tornasse paladino da esquerda (de qualquer esquerda), saiu, em 1970, "A Confissão": agora era a vez de acertar as contas com o stalinismo e seu hábito de falsear a verdade.
Antes de chegar a este "Atraiçoados" (Globo, 0h), porém, Costa-Gavras havia demonstrado que é uma espécie de Indiana Jones do bom combate. Conseguia armar um mecanismo de identificação entre o espectador e a ficção, de tal modo que torcíamos como se estivéssemos vendo um filme de Spielberg.
A agonia das ditaduras deixou mais claro o limite de seu talento. Já em "Desaparecido - Um Grande Mistério", com Jack Lemmon e tudo, o mecanismo emperrava e notava-se que, tirando a epiderme, restava razoavelmente pouco.
Mesma coisa em "Atraiçoados". Tendo nas mãos um tema razoavelmente visitado (a ação da Ku-Klux-Klan, o racismo), coloca em cena uma investigação (Debra Winger à frente) na América profunda. Mas, ao entrar em um aspecto contraditório da questão (ela se apaixona por um racista), não estamos perto de nenhum "Hiroshima, Meu Amor" (o filme de Alain Resnais, de 1959), mas de um tecido razoavelmente frouxo.
Contra isso, a melhor defesa é Debra Winger, admirável como de costume. Mas uma bela atriz não é tudo nesta vida.
(IA)

Texto Anterior: Clima de faroeste prejudica novela
Próximo Texto: Sonho da moda está de volta à passarela
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.