São Paulo, quarta-feira, 8 de fevereiro de 1995
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Fuga de capitais?; Resultados contra a fome; Parceria na saúde; Desperdício de água; Pobre consumidor; Ética farmacêutica; Importante demais; Empréstimo ao México; "Favelados" no show dos Stones

Fuga de capitais?
"Recentemente, seja em manchetes de primeira página, seja em noticiário nas páginas de economia (como na edição de 5/02, pág. 2-10), a Folha tem se referido ao desequilíbrio entre a saída e a entrada de capitais usando a palavra 'fuga'. Mestre Aurélio define fuga como 'retirada rápida e precipitada, fugida'. Não me parece que esse seja o caso da situação brasileira. Ao abrirmos nosso comércio e utilizarmos a política de importações como instrumento básico para forçar queda dos preços internos, seria mais do que natural que, nesta fase, para consolidar o real, tivéssemos um déficit nas nossas contas externas. A crise por que passou o México trouxe colorações mais fortes para esse quadro, mas que, de qualquer forma, parece distante de caracterizar um movimento de fuga de capitais. A questão cambial vem sendo tratada no Brasil com muita competência e ao longo de muitos anos temos gerado confortáveis superávits na balança de comércio. Nossa situação é hoje bastante diferenciada do México, que acumulou em 1994 um déficit em transações correntes de 7% a 8% do PIB, e que no Brasil não chegou a 1%. Parece-me, assim, que não estamos presenciando nenhuma fuga de capitais, mas sim desequilíbrios conjunturais que certamente estarão sendo corrigidos nos próximos meses com políticas mais agressivas de exportação. A situação cambial brasileira, como de todos os países emergentes, vem sendo objeto de muitos comentários apaixonados e que, às vezes, exageram no seu conteúdo emocional e no tratamento que o assunto está a requerer."
Roberto Teixeira da Costa, presidente da Brasilpar (São Paulo, SP)

Resultados contra a fome
"Duas coisas precisam ser ditas ao Betinho (a respeito da carta publicada ontem no Painel do Leitor): 1) a sua (e nossa) campanha faz muitos seminários para discutir e denunciar a fome, mas é preciso espaço para reflexões e debates democráticos sobre si mesma; 2) se ele lamenta que a Folha tenha publicado o artigo, deve ser lembrado que não é o jornal quem assina o artigo, mas o presidente de uma associação científica internacional ou, melhor que isso, um cidadão. Ademais, nem sequer cartas propondo censura à imprensa deveriam ser censuradas... Reitera-se que mais que contar os desnutridos, 32 milhões ou não, deveríamos contar quantos deles realmente estamos, nós e os programas governamentais, efetivamente retirando da miséria, até para com isso aperfeiçoarmos nossas ações. E que correlacionar obesidade e miséria não é questão de gosto, mas de necessidade, se queremos de verdade melhor enxergar e compreender o complexo, contraditório e doloroso quadro social brasileiro nos anos 90, sem metáforas e sem clichês. O meu artigo buscou discutir o programa de FHC e não o do Betinho. Queremos dialogar também sobre a campanha e não apenas sobre a fome. Mais espaço e tempo precisam ser concedidos ao assunto. Mais tolerância intelectual também. Ou não estamos falando de prioridade e solidariedade?"
Luiz Eduardo Carvalho, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Parceria na saúde
"A Prefeitura de São Paulo acertou quando criou a parceria com a Escola Paulista de Medicina para o gerenciamento do hospital de Vila Maria e a Santa Casa. No entanto, com o Plano de Assistência à Saúde, a prefeitura passou a investir na privatização da saúde. Parabéns ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, à Força Sindical e aos sindicatos patronais que criaram a Fundação Parceria para a Saúde, que através da terceirização trarão melhor assistência médico-hospitalar para os trabalhadores."
José Knoplich, presidente da Associação Paulista de Medicina (São Paulo, SP)

Desperdício de água
"O secretário estadual do Meio Ambiente, Fábio Feldmann, surpreendeu a todos ao anunciar que a água consumida pela população ficará mais cara com a cobrança também do líquido e não apenas do tratamento e transporte. Temos total consciência de que a água é o recurso natural mais escasso do planeta e que seu uso tem que ser racionalizado. Mas, antes de impor à população mais esse ônus, o governo tem que acabar com o grande desperdício de água que se verifica hoje. Precisa também fazer com que as indústrias paguem pela água que retiram gratuitamente dos mananciais."
Maria Lúcia Prandi, deputada estadual eleita pelo PT-SP (Santos, SP)

Pobre consumidor
"O lobby poderoso da indústria automobilística conseguiu o que queria: os importados estão mais caros. Será que em agradecimento ao governo as montadoras elevarão seus preços agora ou deixarão passar um tempo até todos esquecerem o que aconteceu? Pobre do consumidor brasileiro..."
Henrique Ballalai Ferraz (São Paulo, SP)

Ética farmacêutica
"Estamos manifestando nossa insatisfação pelo comentário leviano e injusto do presidente da Abifarma, José Eduardo Bandeira de Mello, em 25/01. Insinua a prática de 'empurroterapia' pelo farmacêutico. Esclarecemos que o farmacêutico é o único profissional com formação universitária direcionada ao medicamento, dedicando ao mesmo o maior respeito no tocante a sua eficácia e segurança, ao tempo que abomina o mercantilismo espúrio."
Jurandi David da Silva, presidente da Conselho Regional de Farmácia de Alagoas (Maceió, AL)

Importante demais
"Importante demais para o país, a dúvida 'estatais ou privadas' só pode ser tirada por um plebiscito!"
Carlito Maia (São Paulo, SP)

Empréstimo ao México
"O governo deveria ao menos tentar explicar como um país que não consegue aplicar um salário mínimo de R$ 100,00 e ainda acumula uma dívida externa de US$ 120 bilhões pode se dar ao luxo de oferecer US$ 300 milhões a título de empréstimo a outro falido. É o roto rindo do esfarrapado..."
Paulo Roberto Perez (Rio de Janeiro, RJ)

"Favelados" no show dos Stones
"Em artigo publicado na Folha sobre o show dos Stones na última segunda-feira, Luís Antônio Giron escreve: 'O instante mais forte ficou por conta da arquibancada, quase toda de gente pobre. Os 'favelados' pularam e berraram 'Satisfaction', hino da ansiedade consumista'. O sr. Giron deveria se dirigir a essas pessoas com o respeito e a dignidade que elas têm direito, sua visão da sociedade me parece um tanto elitista e conservadora."
Ricardo L. de F. Brito (Rio de Janeiro, RJ)

"É incrível o poder aquisitivo dos 'favelados do Rio'. A saída do show provocou um enorme engarrafamento em direção à zona sul, com uma grande porcentagem de carros importados. Ah, já sabemos: vocês vão dizer que eram carros roubados..."
Cláudia Rodrigues, seguem-se mais três assinaturas (Rio de Janeiro, RJ)

"O artigo do sr. Luís Antônio Giron de 6/02, sobre o último show dos Rolling Stones no Brasil, foi lamentável."
Aguinaldo H. Guimarães (Rio de Janeiro, RJ)

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