São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Berlim expõe contemporâneos brasileiros

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Artistas brasileiros contemporâneos ganham cada vez mais espaço no circuito internacional.
Dezesseis artistas estão na mostra conjunta "Art from Brazil", em cartaz em Nova York, até o final do mês; Cildo Meireles ganha uma retrospectiva-solo no Instituto de Arte de Valencia (Espanha), até 23 de abril; Rosângela Rennó participa da mostra "Cocido e Crudo", que expõe 55 artistas internacionais no Museu Rainha Sofia, em Madri, até 6 de março.
Dudi Maia Rosa, Tunga, Leda Catunda, Paulo Pasta, Valeska Soares, Mariannita Luzzati, Adriana Varejão e Fernanda Gomes formam o time de artistas que expõe, de março a maio, na prestigiada Haus der Kulturen der Welt (Casa das Culturas do Mundo), em Berlim, na Alemanha.
Enquanto se esboça o sucesso internacional, no Brasil a arte dos anos 90 não tem mais o glamour da década passada. Resta saber qual o destino da produção nacional no próprio país. Para tanto, a Folha convocou um debate entre quatro dos artistas participantes da mostra em Berlim.
Folha - O que vocês acham dessa exportação em massa da arte brasileira?
Dudi Maia Rosa - É ótima, contanto que as obras possam ir, mas os artistas fiquem no Brasil. Não há sucesso consistente no exterior se não houver valorização progressiva dentro do país.
Leda Catunda - A brasilidade procurada pelos estrangeiros nos anos 90 é diferente daquela que se buscava na década de 80. Hoje há curadores internacionais menos impressionáveis com pinturas de araras e florestas.
Paulo Pasta - Corre-se o perigo de forçar uma produção nacional que se adapte às novas exigências externas. No caso da Bienal passada, tudo girou em torno da instalação. Então a pintura ficou de lado. Esse tipo de rotulação impede que se decifre o fenômeno nacional.
Folha - O que é a arte brasileira hoje?
Pasta - É quando as próprias referências históricas passam a ser brasileiras. Hoje eu me baseio no Volpi, num Iberê ou numa Mira Schendel. Já temos nosso rastro de memória.
Rosa - Ironicamente isso foi conseguido pela dificuldade que havia de buscar informações estrangeiras. Há um processo nacional muito coerente, e quem diz que copiamos o que se faz no exterior não sabe o que está falando.
Catunda - Hoje o mercado de arte no Brasil está mais difícil. Mais realista também. Nos anos 80 a arte era modismo, tinha o espaço das capas de revistas, que hoje é a moda que ocupa.
Pasta - Os museus tiveram papel fundamental nos anos 80 para divulgar a arte contemporânea. Hoje o mérito é dos marchands.
Catunda - Eles dão duro e são responsáveis pelo envio da maioria dos artistas daqui para o exterior. Estão se profissionalizando, já entendem de exportação, Cacex.
Mariannita Luzzati - Parece que os anos 90 são de menos euforia e mais sedimentação. É importante haver um discernimento de valor. Quem é bom fica, quem é ruim some.
Pasta - Nos anos 70 havia um enorme espaço para artistas comerciais. Hoje começa a haver um questionamento estético mais profundo.
Folha - O que desperta o interesse dos marchands estrangeiros pela arte brasileira?
Luzzati - O interesse internacional pela arte brasileira contemporânea pode ter a ver com o multiculturalismo, mas já não se põe mais o Brasil junto com o México, por exemplo.
Pasta - O interesse é também comercial; a arte aqui é menos valorizada. Em Nova York é fácil um quadro custar US$ 100 mil. Aqui, por melhor que você seja, é difícil chegar aos US$ 10 mil.

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