São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Falta de acordo prejudica Durán-Ballén

FERNANDO CANZIAN
DO ENVIADO ESPECIAL

A recusa do Peru a aceitar contraproposta do Equador para resolver o conflito entre os dois países colocou o presidente Sixto Durán-Ballén em nova encruzilhada.
Sua popularidade vai sofrer pesadas baixas com a continuidade da guerra e, mesmo assim, ele poderá não ter força política suficiente para recuar e aceitar um cessar-fogo incondicional.
Em alguns dias, as notícias sobre o avanço peruano e as imagens de soldados equatorianos mortos e feridos começarão a bater contra a sua imagem e o discurso de não ceder nem um centímetro.
Em outra frente, a máquina militar do Equador, forte e popular neste momento, não vai permitir que o presidente aceite um cessar-fogo que implique a retirada dos soldados de seus postos.
A proposta do Peru para cessar os ataques contra o Equador exige o recuo das tropas dos dois países.
Segundo essa proposta, o Equador concentraria seus militares na base de Coangos e o Peru na de Soldado Pastor.
Com o caminho livre, os países que garantem o Protocolo do Rio, de 1942 (Brasil, EUA, Argentina, e Chile), enviariam observadores para averiguar a situação.
Durán-Ballén sofre pressão dos militares equatorianos. Sua contraproposta é que o cessar-fogo entre em vigor e que as tropas sejam substituídas por observadores internacionais e autoridades civis dos dois países. Após essa fase os dois países decidiriam o que fazer com a área em litígio.
O périplo de 53 horas que Durán-Ballén fez a Brasília, Buenos Aires e Santiago há dois dias teria sido um esforço desesperado para convencer os países avalistas do Protocolo do Rio a pressionar o Peru a aceitar essa contraproposta.
Mas o Peru não a aceitou e a qualificou como impertinente.
Os avalistas do acordo de 1942 estariam pressionando o Equador a aceitar o recuo das tropas, já que se sentem impotentes para resolver uma crise sobre a qual, teoricamente, têm responsabilidades.
O Peru já fez sua proposta —a de recuar e esperar pelos observadores internacionais— e intensificou seus ataques.
Além disso, o Peru, pelo menos aparentemente, esta ganhando esta guerra. Isso pode ser sinalizado pelo nervosismo dos militares equatorianos e pela atual proibição à imprensa de viajar para algumas das áreas que os peruanos afirmam já estar controlando.
Mais concretamente, pode ser indicado também pelos ataques e superioridade militar peruana, três vezes maior que a do Equador.
Os insistentes ataques aéreos peruanos com aviões e helicópteros podem estar produzindo mais baixas entre os equatorianos em terra do que entre os agressores.
Some-se a isso o fato de que o Equador não está atacando as posições peruanas, mas, como diz, apenas defendendo seu território.
A reposição de tropas e armamentos vai se tornando difícil, especialmente em uma região de montanhas e de difícil acesso como a que está em disputa.
O presidente Alberto Fujimori, candidato à reeleição, estaria levando a melhor no campo político.
A indiferença dos peruanos pelo conflito contra o Equador transformou-se de uma semana para cá em um apoio de 71% da população à guerra.
(FCz)

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