São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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A CPI das empreiteiras

A notícia de que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) está articulando a reabertura da CPI das Empreiteiras é mais do que bem-vinda.
Pode parecer incrível, mas o país que assistiu às mazelas que cercaram a gestão de Collor, que assistiu ao escândalo do Orçamento e a tantos outros episódios de desvio de recursos públicos, ou seja, de todos nós, age como se ainda não tivesse percebido o óbvio.
Tão simples quanto a mais simples equação de primeiro grau, pode-se afirmar que se existe um corrupto existe também um corruptor. Apesar da clareza e evidência desse raciocínio, as autoridades continuam agindo como se a questão da corrupção tivesse apenas um lado e fosse culpa exclusiva de políticos indignos e autoridades desonestas.
Apesar de absolvido pelo STF, Collor de alguma forma foi punido com a perda de seu mandato. Apesar de poucos, alguns dos parlamentares envolvidos no escândalo do Orçamento foram cassados ou se viram compelidos a renunciar. Assim, do lado dos corruptos, o saldo final certamente não pode ser celebrado como uma vitória, mas, pelo menos, houve investigações e umas poucas punições, bem inferiores à proporção do crime.
Já do lado dos corruptores, o resultado só pode ser rotulado como uma afronta, visto que nem mesmo a apuração foi iniciada.
Será que o poder daqueles que corrompem é tão forte a ponto de colocá-los sempre a salvo da lei? Será que todos os casos de malversação de fundos públicos com que o país foi obrigado a conviver não o tornaram um pouco mais exigente no que se refere à ética e à igualdade de todos perante a lei?
A responsabilidade é de todos. Judiciário, Legislativo e Executivo têm a obrigação de demonstrar que o Brasil é de fato um Estado de Direito. A CPI das Empreiteiras é uma excelente oportunidade para o novo Legislativo começar a fazê-lo.

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