São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Raposas no galinheiro

Talvez porque o Congresso Nacional tenha suscitado nos últimos tempos tanta indignação, concentrando em si as atenções, o Legislativo paulista deu-se ao luxo de uma iniciativa que beira a indecência política. Instaurou-se uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) do Banespa que será presidida pelo deputado Barros Munhoz, candidato derrotado ao governo do Estado e ex-secretário do governo Fleury.
Que a nomeação é discutível do ponto de vista ético parece evidente. Mas é na prática um subescândalo do escândalo maior, que é a instalação da CEI por uma Assembléia Legislativa cuja renovação foi adiada até março por decisão da Justiça. Como se o quadro já não fosse suficientemente kafkiano, a articulação da CEI nesses termos contou com o apoio do PSDB, partido do governador Mário Covas que, teoricamente, seria o mais interessado em abrir espaço para uma apuração mais isenta. Com o PMDB no comando da CEI do Banespa, o líder do partido sente-se à vontade para desde já declarar que será demonstrado que "a crise do banco não foi gerada pelo PMDB".
O escândalo do Banespa corre assim o risco, depois de uma fase espetacular em que o governo federal interveio e o governo estadual prometeu agir, de entrar numa nova etapa em que as escaramuças políticas terão primazia.
Há pelo menos três interesses distintos em jogo. De um lado, o Banco Central defende a privatização do banco ou seu saneamento com base na privatização de estatais paulistas. Do lado oposto, o governador Covas reluta e negaceia diante da privatização tal e qual. E no meio de campo, uma CEI que parece nascer condenada a criar confusão e disparar contra o governo estadual do PSDB, contra a gestão de André Franco Montoro e também contra o federal.
Mais que uma raposa cuidando do galinheiro, tudo indica que se assistirá ao confronto de várias raposas num galinheiro já vazio. Mas é como sempre o contribuinte, não apenas o paulista, que continua sendo progressivamente depenado.

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