São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Loiros de olhos verdes foram discriminados

ROSE ZUANETTI
DO BANCO DE DADOS

Apesar de seus cabelos loiros e olhos verdes, os economistas José Luiz Pastore Melo, 26, e Izabela Prado Moi, 24, dizem ter sofrido preconceito em Sydney, capital do Estado de Nova Gales do Sul, na Austrália.
O fato que mais marcou o casal aconteceu com Melo, quando trabalhava como "kitchenhand" (auxiliar de cozinha) num restaurante cinco estrelas especializado em lagostas, em Sydney.
O cozinheiro-chefe ítalo-suíço, Mario Marchetto, mandou Melo matar uma barata que passeava em volta do fogão.
Considerando que o braçal demorava demais para executar a tarefa, o "chef" não perdeu a oportunidade: "Já sei, você não quer matar a barata porque afinal de contas você também é um 'cucaracha' (barata em espanhol e gíria usada para identificar qualquer latino-americano)".
"Sofremos o tipo de preconceito e discriminação que sofre qualquer um que vá trabalhar em subempregos no Primeiro Mundo. Ninguém acreditava que éramos economistas e não entendiam como sabíamos tão bem o inglês", afirma Melo.

Mulher na Ásia
Depois da Austrália, Moi e Melo fizeram uma viagem de sete meses por países asiáticos. Por causa de sua condição feminina, Moi viveu situações delicadas na Indonésia, Nepal e Índia.
Segundo a economista, é impossível uma mulher andar sozinha nas ruas da Índia sem sofrer assédio sexual. "Os indianos pensam da seguinte maneira: se você não é casada, você tem algum problema. Se você é casada, por que seu marido não está com você?"
Na Indonésia, especificamente na ilha de Flores, eles iam visitar o vulcão Kelimutu, famoso pelos três lagos cujas cores se alteram de tempos em tempos. Para chegar ao vilarejo mais próximo, Moni, era necessário tomar um ônibus apinhado de gente.
Os dois resolveram ir do lado de fora do ônibus, no bagageiro, como é costume no lugar. Melo subiu no teto sem problemas. Quando chegou sua vez, Moi ouviu um coro de homens: "Woman, no. Woman, no."
No Nepal, o alvo dos mochileiros era a cordilheira do Himalaia. Seguiam para Nagarkot —um vilarejo próximo à capital Kathmandu—, de onde teriam uma boa visão do pico do monte Everest.
Teimosa, ao tentar subir no teto do ônibus atrás do namorado, Moi teve sua camiseta puxada por dois homens. Eles apontaram para as mulheres que estavam sentadas dentro do ônibus.
A economista também enfrentou embaraços por ser mulher quando viajou para o sul da Índia, região famosa por suas belas praias.
Melo teve que defendê-la várias vezes do assédio de indianos nas cidades de Chapora e Kalangute. Em Panaji, capital do Estado de Goa, havia também o problema dos furtos. "Um de nós ficava tomando conta das coisas, enquanto o outro entrava na água."

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