São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 1995
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Aulas e enchentes

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Chuvas e enchentes em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais, mas o presidente vai dar aula na Bahia. Na Bahia e também em Minas, mas em Diamantina, longe das águas. "Fernando Henrique dá aula para crianças e diz que o presidente nem sempre pode fazer o que quer" foi a manchete do SBT.
Depois dizem que o presidente tem uma assessoria competente, de imagem. Enquanto passeava no país seco, as redes trombeteavam que "a chuva não pára", nas palavras da Record, deixando "cidades isoladas" no Paraná, segundo a CBN, e causando "o desmoronamento de toneladas de terra" que fecharam a ligação entre dois estados, segundo a Globo.
"Água e mais água, lama e mais lama", acrescentou a Globo. "Em Joinville, muitos bairros já estão alagados."
E o presidente abraçando crianças, descerrando placas no país seco, como notou o SBT. E o presidente sendo "recebido com festa em Diamantina, onde abriu o ano letivo". Antes, "por todas as ruas onde passava, Fernando Henrique era aplaudido", como na campanha do ano passado. Em Minas, claro, não faltou tempo para "uma visita à casa de JK".
A âncora da CBN não se conteve. "É uma atitude típica de campanha", comentou, irritada. Tudo era da campanha, até ACM, ao lado do presidente, mas fazendo observações de ironia e de malvadeza.
E as emissoras dizendo que "a frente fria vai ficar até a semana que vem sobre o Brasil", ou seja, vem mais água.
Não que o presidente pudesse fazer alguma coisa além de liberar dinheiro para tapar os buracos das estradas, como anunciou ontem o ministro dos Transportes, na Bandeirantes —mas com o governador desaparecido e o prefeito dizendo que a culpa não é dele, a cidade, não só São Paulo, mas São Paulo em especial, sente a ausência do "poder público".
Não à toa, tanto a Globo como o SBT mostravam ontem como entrar com um pedido de indenização contra o "poder público", seja ele qual for.
E o presidente reclamando com seus alunos na Bahia, em cena de populismo aberto, como na campanha, que o cargo é como o de técnico da seleção, sempre muito criticado.

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