São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 1995
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Surfe vira espetáculo em 'Endless Summer 2'

EDUARDO SIMANTOB
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

Filme: Endless Summer 2
Direção: Bruce Brown
Onde: a partir de hoje nos cines Bristol, Morumbi 1 e Aricanduva 4

Entre as diversas tribos que proliferaram nos anos 60, de maoístas, neobudistas, hippies, yippies etc., apenas uma parece manter vivos seus ideais, de liberdade e hedonismo: os surfistas. É isso que pode se ler nas entrelinhas de "Endless Summer 2", filme de Bruce Brown que estréia hoje.
O "Endless Summer" original, realizado em 1964 pelo mesmo diretor, era uma produção "caseira" (US$ 50 mil, rodada em 16mm), que contrasta com o orçamento de US$ 3,3 milhões da nova versão.
Oriundos das tribos californianas, os surfistas de 64 —jovens americanos avessos ao "establishment"— viajam pelo mundo em busca de "picos" inexplorados e da onda perfeita. Inevitavelmente, acabam causando verdadeiros choques culturais com as populações dos locais que visitam.
Os viajantes de "Endless Summer 2" não são mais alienígenas. Ao contrário, confundem-se entre a massa suspensa em "fiberglass" que se apinha nas praias mais manjadas do planeta.
Mas Brown não esquenta. Contrapõe as praias do Havaí e da Califórnia, que parecem o Guarujá no Carnaval, lotadas tanto dentro quanto fora da água, com a busca de locais absolutamente despovoados para surfar em paz.
Tal exploração resgata a veia perdida do surfe, não só um esporte, mas uma "opção de vida". Mas falar em filosofia surfe seria o mesmo que tentar descrever o que uma rosa significava para Buda.
O prazer de escorregar pelo tubo da onda perfeita demanda uma disciplina de horas sob o Sol. A viagem de Pat e Wingnut vai atrás justamente do surfe em estado bruto. Não só surfam em picos paradisíacos, como ainda são guiados por lendas vivas do esporte.
Tom Curren, Gerry Lopez, Shaun Tomson, Tom Carroll, entre outros, são filmados por um dos "papas" da cinematografia aquática, Don King. É a ele que se deve o efeito espetacular do filme. Filma de longe, de muito perto, de dentro da onda, de trás da onda, com um apuro técnico impecável.
O que permeia todo o discurso do filme é o espírito de sair em busca de meros instantes, efêmeros, mas muito intensos. E só. Mas bem que Brown podia ter dado um pulinho no Brasil. Ufanismos à parte, a falha é imperdoável.

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