São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Todas as reformas

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente "endureceu o discurso". Foi "o mais forte discurso em defesa da reforma da Constituição".
Ouvindo o presidente, que falava aos empresários reunidos para discutir a reforma, não pareceu tudo isso, como descrito na Globo. Fernando Henrique criticou seus críticos e até bateu na mesa, mas de leve, porque não é de "esmurrar" ninguém, o presidente.
— Eu fico muitas vezes olhando análises. "Ah, o presidente não vai conseguir." Vai sim. Não é o presidente, não. O Brasil vai se impor e vai fazer as reformas necessárias... porque são necessárias... porque são necessárias.
Fernando Henrique não fez um discurso "duro", mas um discurso de sociólogo. Partiu da realidade, da observação, da ciência, por assim dizer, para falar que as reformas vão sair. É assim, o presidente tucano.
O que talvez tenha feito a Globo entusiasmar-se tanto e sair bradando que "o presidente garante que o Brasil vai se impor e fazer todas as reformas", como anunciou o Jornal Nacional, é a segunda parte da notícia, aquela em que Fernando Henrique promete retomar "todas" as reformas.
"Todas" inclui a reforma econômica, que o presidente vinha ameaçando deixar para trás. Era o caso, o maior, da privatização das teles.
Está nas telecomunicações a origem do conflito entre FHC e ACM, esta semana. Conflito que o senador da Globo parece estar querendo levar às últimas, ameaçando até derrubar o veto do presidente ao aumento do salário mínimo.
O próprio filho de ACM, que é tido pelos tucanos como uma alternativa modernizante no PFL, aparecia ontem na CBN como um defensor do aumento. E não é por compaixão que os pefelistas mudaram tanto.
Antes aconteceu o escândalo OAS, o convite a Irma Passoni, aconteceu de tudo, de parte a parte. No meio tempo, o novo ministro das Comunicações passou pelo Rio para conversar com Roberto Marinho.
O presidente, ao que parece, decidiu conter os ataques, daí o discurso em apoio às reformas "todas". Pode ser apenas um cessar-fogo, pode ser o fim da guerra, em acordo. O certo é que o senador da Globo não vai desistir de provar, agora ou no futuro, ascendência sobre o presidente da República.

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