São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Aliado demagógico

A cada dia que passa fica mais evidente que um governo que tem os amigos com que conta Fernando Henrique Cardoso não precisa mesmo de inimigos.
Na campanha eleitoral, o então candidato foi obrigado a recorrer a frequentes contorcionismos verbais para explicar sua aliança com o PFL. Uma das razões era óbvia: os votos do PFL no Congresso seriam indispensáveis para as reformas que o candidato prometia fazer.
Agora, o principal cacique do PFL, o senador Antônio Carlos Magalhães (BA), ameaça votar contra o veto do presidente à elevação do salário mínimo para R$ 100.
Seguindo-se o raciocínio do presidente, o mínimo de R$ 100 significa dinamitar o Plano Real antes mesmo de se discutirem as reformas estruturais que darão, supostamente, longa vida ao plano.
Não é o caso de se indagar se o presidente tem ou não razão. O que cabe apontar é que aliados servem —ou deveriam servir— exatamente para os momentos difíceis. E vetar aumento de salário, especialmente para os mais pobres é, para dizer o menos, extremamente penoso e desgastante.
Cabe ainda indicar a nítida demagogia do gesto do senador baiano. Se tivesse, de fato, um mínimo de preocupação com o salário mínimo, ACM teria pelo menos tentado ajudar a melhorá-lo durante os 30 anos em que apoiou e/ou participou de todos os governos, democráticos ou autoritários.
Não parece exagerado dizer que ACM é cúmplice político de todos os mecanismos salariais adotados no país nesse longo período, bem como de todos os prejuízos evidentes causados aos assalariados.
Sua reação tardia e extemporânea soa assim como uma tentativa de valorizar o seu próprio cacife político, o que é lamentável. Pior ainda, o ex-governador é líder de um partido que faz parte da coligação que ganhou a eleição.
Quem se alia a alguém fica na obrigação de compartilhar os ônus e não só os bônus da ação política, sob pena de caracterizar um oportunismo do tipo mais exacerbado.

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