São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Solução central para o homem

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO — Nada a ver com a mania centralizadora dos regimes totalitários que periodicamente dominam o pensamento e as instituições humanas. A tentativa de centralizar problemas e soluções, em nível político, econômico ou social, costuma ser a sustentação de qualquer ditadura de cá ou de lá.
Mas a crise do mundo moderno (que para efeito de esquema começou com a Reforma, sendo Lutero o primeiro moderno) exauriu todas as indagações, todas as propostas surgidas e todas as reações ameaçadas —a mais notória sendo a própria Contra-Reforma promovida pela Igreja e operada com eficiência pelos jesuítas.
Restou o vazio, pior, restou o vácuo, onde a noção do proveito foi guindada a fim último da aventura humana. A Lei de Gérson, apesar de moderna, é mais antiga do que o Canhotinha de Ouro.
Queiram ou não os filósofos, sociólogos e economistas, o vácuo existe, entre outros motivos, porque continua a existir a morte, não apenas a morte individual, mas a morte de idéias disfarçadas no pomposo nome de "processo".
Processo que esbarra na conveniência e no contingente das ações coletivas pessoais. Na hora do lobo, cada qual descobre a inutilidade, a precariedade de tudo. Daí a busca de uma solução central que talvez não dê para explicar o homem, mas, em certa medida, o justifica.
Atualmente, é praxe discutir a âncora cambial e o exagero dos âncoras da TV. No subsolo de cada problema, nas desconhecidas águas de cada desafio, sentimos a falta de uma âncora moral que fixe o homem na profundidade em que ele possa manter a sua navegabilidade.
A ausência dessa âncora moral, dessa solução central, tem prolongado além da conta aquilo que Teilhard de Chardin chamou de fenômeno humano. Que poderia ser simplesmente o humano, o relativo ao homem. Sim, o Homem, espelho rude e terrível do tempo, senhor do nada.

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