São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Equador e Peru

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Nestes dias, de 3 a 10 de fevereiro, reuniram-se, no Rio de Janeiro, membros das presidências de Conferências Episcopais da América Latina, Estados Unidos e Canadá, num total de 25 participantes. Uma das principais finalidades era a preparação do Jubileu do Ano 2000, anunciado pelo papa João Paulo 2º e que, provavelmente, incluirá a convocação de um sínodo especial para o continente americano.
Entre as questões pastorais comuns, figuravam na pauta: difusão e estudo do catecismo da Igreja Católica, as jornadas mundiais para a juventude, as consequências da Conferência do Cairo, a futura Conferência Mundial em Copenhagen e Pequim, ainda neste ano, e os relatórios sobre a vida da Igreja nos diversos países da América.
Grande preocupação causaram os acontecimentos na fronteira entre Peru e Equador. São povos irmãos que, por causa de limites territoriais, enfrentam-se, com violência das armas, há 14 dias. Houve vítimas e até agora não se conseguiu um acordo definitivo.
Como fruto da solidariedade com estes países, decidiram os bispos fazer forte e confiante apelo aos presidentes do Equador e Peru e aos dirigentes das quatro nações que garantam o Protocolo do Rio de Janeiro, firmado em 1942, para que impeçam imediatamente o derramamento de sangue e substituam o recurso à violência pelo diálogo construtivo. Renovaram especial confiança na ação diplomática brasileira. Unem-se, assim, os bispos às palavras do papa João Paulo 2º, conclamando os dois povos irmãos para a concórdia e a paz.
Diante da gravidade de mortes na fronteira, é preciso afastar o desvario da luta armada: 1) a guerra nada soluciona e traz vantagem apenas para quem fabrica armas ou as comercia; 2) instila o ódio entre povos vizinhos e amigos que querem e gostariam de alcançar a convivência na paz; 3) elimina vidas, multiplicando a viuvez, a orfandade nas famílias humildes e indefesas da região em litígio; 4) a guerra consome recursos enormes que deveriam ser utilizados para atender a urgentes necessidades dos mais pobres.
É preciso, quanto antes, que os governantes do Peru e Equador consigam superar o doloroso incidente e buscar uma solução equitativa para a questão dos limites que há anos aguarda definição. A história mundial do último decênio está marcada por conflitos violentos que ceifaram centenas de milhares de vidas na luta entre Iraque e Irã, na guerra do golfo Pérsico, na Bósnia, Ruanda e Tchetchênia. É de maior importância, por isso, que países irmãos e de inspiração cristã, como Equador e Peru, demonstrem às demais nações que o diálogo é o único caminho para criar e restabelecer a convivência pacífica.
Os bispos do Equador e Peru pediram aos fiéis de seus países que rezem a mesma oração pela paz em todas as igrejas e famílias, a fim de que os dirigentes decidam cessar fogo e encontrem o caminho para o acordo definitivo.
Precisamos, agora, todos cooperar, com a oração e o esforço diplomático, a fim de que o respeito mútuo e o apreço cresçam e se confirmem entre Equador e Peru e nos países do continente.
Permita Deus que o nosso milênio signifique para a história da humanidade o fim das guerras, na certeza de que é possível viver um relacionamento novo entre os povos, marcado pela fraternidade, na justiça e na concórdia.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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