São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Inquietação persiste com volta de superávit

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O saldo positivo dos contratos de câmbio fechados pelos exportadores e importadores nos primeiros nove dias de fevereiro sugere uma reversão na tendência de déficits registrada desde novembro. Indica também que o Banco Central está administrando corretamente a taxa de câmbio.
Apesar disso, persiste no mercado uma forte inquietação com a política cambial. Ela aumentou quando a cotação do dólar comercial desceu abaixo do suposto piso de R$ 0,84 desde segunda-feira passada, sem que o BC realizasse qualquer intervenção para sustentar a moeda norte-americana.
Essa inquietação é consequência da crise do México, que mostrou a fragilidade e os limites do uso da chamada "âncora cambial" como instrumento de estabilização econômica, em que pesem as diferenças entre as economias mexicana e brasileira.
Segundo Geraldo Carbone, vice-presidente do Banco de Boston, a captação de recursos externos caiu a praticamente zero nos últimos 50 dias. "As operações de 'euronotes' e 'commercial papers' que estão vencendo não estão sendo renovadas", conta Carbone.
Diante da reviravolta no cenário financeiro internacional, as metas do governo na área externa para 1995 foram revistas. O objetivo passou a ser a obtenção de um superávit de US$ 5 bilhões na balança comercial (exportações menos importações).
Na conta de Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, a balança de serviços (juros da dívida externa, além de royalties, fretes e seguros) deve fechar o ano com um déficit da ordem de US$ 15 bilhões.
A diferença de US$ 10 bilhões entre o superávit da balança comercial e o déficit na de serviços constitui o chamado déficit em transações correntes. O país terá de buscar essa diferença no exterior, na forma de investimentos e empréstimos, para fechar a conta do balanço de pagamentos.
Para estimular as exportações sem desvalorizar o real em relação ao dólar —que traria a inflação de volta—, o governo eliminou o compulsório de 15% e restabeleceu o prazo de 180 dias para os ACCs (Adiantamentos de Contratos de Câmbio).
O resultado foi que, desde 26 de janeiro passado, as vendas de dólares dos exportadores voltaram a superar as compras dos importadores. "Tiraram o bode da sala", diz o consultor Emílio Garófalo Filho, ex-diretor do BC, referindo-se às medidas, que revogaram regras baixadas em outubro passado.
O ACC é um tipo de empréstimo em dólares que o exportador contrai no banco, com base em mercadorias que serão embarcadas no futuro, pagando juros de 8% a 12% ao ano.
O dinheiro captado com essa venda antecipada de dólares de exportações é aplicado no mercado financeiro doméstico, onde as taxas de juros estão no patamar de 47% ao ano.
Essa diferença entre as taxas interna e externa de juros resulta num ganho de R$ 0,08 por dólar para o exportador, segundo cálculos de Walter Kuroda, diretor de planejamento financeiro do Banco Nacional. Ou seja, o ACC faz com que, em cada dólar vendido a R$ 0,83, por exemplo, o exportador embolse R$ 0,91 no final da operação.
A rápida recuperação dos ACCs gerou um superávit de US$ 699,708 milhões nas operações comerciais do mercado de câmbio nos primeiros nove dias de fevereiro. As vendas de dólares pelos exportadores nesse período somaram US$ 1,762 bilhão e as compras dos importadores, US$ 1,062 bilhão. Esses números, projetados para todo o mês, apontam um saldo comercial positivo de US$ 1,799 bilhão.
O desempenho dos fechamentos de câmbio indica que a taxa de câmbio está sendo corretamente administrada pelo governo, na avaliação de Garófalo.
Ele destaca que as contratações de câmbio para exportação voltaram ao patamar do primeiro semestre de 1994, da ordem de US$ 4 bilhões mensais.

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