São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Nova York se prepara para receber Diana

REBECCA MEAD
DA NEW YORK

Nos últimos meses a princesa de Gales, segundo informes recentes da imprensa, procurou apartamentos para comprar no edifício Trump Tower, pagou as taxas necessárias para tornar-se sócia do clube de campo Mar-a-Lago, de Donald Trump, em Palm Beach, e, numa iniciativa inteiramente livre de Trumps, discutiu a possibilidade de se mudar para Nova York e conseguir um emprego na "Harper's Bazaar" com a editora britânica Elizabeth Tilberis, a quem entregou um prêmio esta semana no jantar do Conselho de Estilistas de Moda Americanos.
Qualquer notícia relativa à família real —especialmente uma que menciona Donald Trump sob um prisma positivo— deveria ser tratada com ceticismo. Embora Diana realmente tenha se sentado à mesa de Tilberis no jantar dos estilistas, e embora os proprietários da 'Harper's Bazaar", a Hearst Corporation, tenham comprado ingressos para o evento no valor de US$ 1,1 milhão, uma porta-voz da revista afirma que "não foi feita qualquer oferta de emprego".
O Palácio de Buckingham qualifica os rumores da mudança de endereço como "lixo". Nigel Dempster, colunista social do Daily Mail, zomba dessa história toda. "É absolutamente impossível ela ir para lá", diz ele. "Por que ela quereria ir a um buraco infernal como Nova York? Que tipo de vida ela teria lá? É uma fantasia promovida por corretores de imóveis da cidade interessados em vender edifícios'.
Não apenas Dempster, mas o próprio bom-senso oferecem argumentos contrários a uma mudança para Nova York, por pelo menos dois motivos: ela é demasiado ligada a seus filhos para afastar-se deles e certamente jamais seria permitido que eles a acompanhassem; e ela estará muito melhor situada para infernizar a vida do príncipe Charles —coisa que, até agora pelo menos, parece disposta a continuar fazendo— se permanecer em seu futuro reino.
Mesmo assim, há evidências circunstanciais suficientes para sugerir que Diana esteja pelo menos considerando a idéia de transferir sua magnificência para estas paragens. E, como tantos europeus em boa situação financeira, por que ela não poderia passar, digamos, alguns meses por ano aqui?
Um confidente da princesa, Richard Kay, do "Daily Mail", disse que Diana gostaria um dia de ter uma casa em Nova York; e o artista de Filadélfia Nelson Shanks, que recentemente completou o que qualificou de "retrato definitivo" da princesa e tornou-se seu amigo, diz que não ficaria surpreso se ela se mudasse para cá.
"Estou apenas repetindo o que ela me disse: que gosta muito dos americanos, que os acha muito abertos e amistosos", diz ele. "Vou expressar a coisa da seguinte maneira: quais são as chances dela de encontrar uma situação socialmente perfeita na Inglaterra? Eu diria que são praticamente nulas".
Talvez seja por isso que Diana optou por esquiar nos EUA este inverno, em lugar das estações européias que costumava frequentar; e por isso que tem visitado tão assiduamente sua amiga Lucia Flecha de Lima, mulher do embaixador brasileiro em Washington.
Sua chegada esta semana na desavergonhadamente anglófila Nova York deixou claro para Diana o quão completamente ela domina a supercultura transatlântica de celebridades e alta sociedade que opera a partir da grande cidade. E levando em conta que ela praticamente já jogou fora suas chances de vir a tornar-se rainha da Inglaterra, por que Diana não poderia ser persuadida a fazer uma mudança total, dar ouvidos ao chamado da sra. Liberdade e recomeçar sua vida, como tantos milhões de imigrantes já fizeram antes dela?
E se Diana está cogitando a idéia, por que nós não deveríamos fazer o mesmo? Na verdade, quanto mais se joga esse jogo, mais fascinante ele se torna.
Que melhor lugar poderia haver para Diana dar continuidade a sua educação de alta cultura do que nesta capital das artes? Onde melhor do que Nova York ela poderia prosseguir com suas incursões nos fenônemos da Nova Era —Nova York, que só perde para a Califórnia a coroa de lugar onde a maluquice das classes altas é mimada por uma completa infra-estrutura de serviços pseudoterapêuticos?
Hoje, mais do que nunca, Nova York seria receptiva ao tipo de luxo internacional personificado por Diana. Entre os nativos, o circuito dos eventos filantrópicos já assumiu ares de chatice.
O único nova-iorquino ainda capaz de levantar as multidões, John F. Kennedy Jr., é tímido demais para usar a coroa de celebridade que é sua por direito natural. Na verdade, desde a morte de sua mãe, Jacqueline, em maio passado, Nova York sente falta de uma grande celebridade de que a cidade possa se orgulhar, fascinada, de deixar em paz.
Nova York será um alívio para Diana porque existe uma diferença entre ser uma pessoa famosa e uma personagem da família real. Apesar dos esforços para trazer a família real ao mundo dos comuns, eles ainda são cercados por vestígios de idéias relativas aos direitos divinos. Lá, seria a rainha que não chegou a ser. Em Nova York, seria mais uma princesa.

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Sobre a princesa Diana na pág. 8

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