São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Produtividade - Tempo novo na indústria

SYLVIO NÓBREGA COUTINHO

Erramos: 13/10/95
Neste artigo, foi escrito, erroneamente, que o empresariado brasileiro "foi posto em cheque". O correto é "foi posto em xeque".
Para traçar um retrato, o mais realista possível, da situação atual da indústria brasileira, temos de considerá-la em dois períodos distintos: antes e depois de 1990.
Essa divisão de águas é fundamental porque marca a diferença entre os longos anos de letargia, em que a indústria viveu à sombra de políticas protecionistas —quando a única discussão que entusiasmava o empresariado era o preço dos bens produzidos— e o período subsequente, caracterizado pela busca da competitividade, através de redução de custos, maior produtividade, maior qualidade dos produtos e serviços e confiabilidade nos prazos assumidos com os clientes.
Com a globalização da economia, quadro que começou a se definir lá pelo final da década de 1980 e início dos anos 90, o empresariado brasileiro foi posto em xeque: a recessão das economias interna e externa, acompanhada de uma abertura de mercado, ainda que tardia e tímida, começou a assombrar o confortável mar de tranquilidade em que a indústria se achava instalada. Assim, quem não corresse em direção às mudanças, provocando uma revolução nos velhos conceitos, teria os dias contados.
Com isso, a mentalidade dos empresários começou a mudar de verdade. E a qualidade se transformou na palavra-chave de um processo que está se consolidando em todos os níveis. Hoje, não há empresa onde não se fale em Total Quality Control (TQC), Total Quality Management (TQM), Manutenção Autônoma, Just-in-Time —filosofias que, na prática, vêm ajudando a reverter os anos de atraso e dependência de benesses do governo.
Nos últimos dois anos, resultados concretos dão conta do tamanho dessa transformação: mais de 400 empresas brasileiras estão produzindo dentro dos exigentes padrões estabelecidos pelas normas da série ISO-9000, com certificados emitidos pelos auditores internacionais de qualidade. Com isso, estamos à frente de países como a Coréia do Sul, por exemplo, além de liderar a indústria latino-americana com produtos reconhecidamente competitivos.
A siderurgia está à frente nessa revolução: nosso parque industrial, moderno e atualizado, está entre os melhores e mais eficientes do mundo. A qualidade comanda o processo de crescimento em todos os níveis. De uma forma geral, as empresas estão empenhadas em tirar o máximo proveito dos recursos hoje disponíveis, além de buscar a atualização e modernização imprescindíveis para garantir a sobrevivência, através de vultosos investimentos.
A Companhia Siderúrgica Nacional, líder inconteste do setor, está firme no cumprimento de suas metas nesse sentido. Em termos de máquinas, equipamentos e processos, os resultados mostram que estamos acertando. A capacidade nominal de produção de aço —4,6 milhões toneladas— foi atingida pela primeira vez em 1994, e com apenas dois dos três Altos-Fornos em operação. Isto é especialmente significativo se considerarmos que os recursos tecnológicos estavam disponíveis desde 1983, ano em que concluímos nossa expansão.
O salto também se faz notar em nossa produtividade operacional, que passou de 169 ton/homem/ano em 1990 para 320 ton/homem/ano em 1994, considerando que a CSN é uma das maiores usinas integradas do mundo, com minerações próprias.
Nosso plano de modernização prevê investimentos de US$ 1,1 bilhão, no quinquênio 1993-1998, dos quais 55% voltados para a melhoria da qualidade e produtividade. Em 1994, fora investidos US$ 106 milhões e, em 1995, outros US$ 250 milhões serão investidos.
Tendo optado pelo TQC como modelo gerencial, a CSN entende que a motivação e a capacitação do empregado são fundamentais para o crescimento do ser humano dentro do processo industrial. O TQC possui todas as ferramentas necessárias para aprimorar e aprofundar cada vez mais esse trabalho, que a empresa realiza com o maior entusiasmo.
Sem dúvida, a indústria brasileira mudou muito —e não apenas na siderurgia, claro. Nossa imagem é absolutamente positiva em todo o mundo. Enquanto muitos países são dependentes de exportações para os Estados Unidos, as exportações brasileiras para aquele país representam apenas 25%. Hoje, o Brasil participa de muitos outros mercados, o que não só comprova nossa competitividade como também minimiza os efeitos de eventuais crises do mercado de exportações.
Na nova ordem mundial, qualidade e produtividade estão dando a medida do sucesso ou fracasso na atividade industrial. É por isso que essas questões estão entre as prioridades do novo governo do Brasil, de acordo com o pensamento do presidente e de muitos ministros, expresso em discursos e entrevistas. Nossas empresas hoje mostram que têm aprendido a lição dos novos tempos, e por isso sabem também que não podem se dar ao luxo de se acomodar: afinal, não basta ser competitivo. Em tempos de regras claras e livre concorrência, é preciso ser o mais competitivo.

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