São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Os portões do senhor reitor

SILVIO CIOFFI

Os professores Flávio Fava de Moraes, reitor da USP, e Antonio Rodrigues Martins, prefeito da Cidade Universitária, comemoram hoje o primeiro mês de fechamento dos portões do campus nos finais de semana. Só eles.
A medida —uma das mais antipáticas de que se tem notícia— entrou em vigor no dia 14 de janeiro e cerceia a liberdade dos 80 mil cidadãos que frequentavam, nos domingos de sol, um espaço que é público.
A USP tem mais de 5 milhões de m2 —3 milhões deles ocupados por área verde— e é natural que seu campus universitário sirva de área de lazer numa cidade que sofre com a superpopulação e que precisa de mais parques.
São Paulo tem apenas 3,5 m2 de área verde por habitante, contra os 12 m2/habitante recomendados pela ONU e os 52 m2/habitante de Curitiba.
"Não vamos fazer como a administração anterior, que transformou o campus num parque", foi o que declarou o senhor reitor quando a decisão foi tomada. Quanta sensibilidade!
Ao abrir os portões apenas para seus pupilos —um funcionário decidia no último domingo, no "olhômetro", quem era digno de frequentar o campus—, o professor Fava de Moraes fecha os olhos para uma demanda social importante.
Está claro que a função primeira da universidade é produzir e transmitir conhecimento, mas não é justo que a população se veja privada de passear, namorar, respirar ar puro ou de praticar esportes num local que não pertence ao reitor, nem ao prefeito da USP, mas sim à própria população.
Em vez de tomar medidas autoritárias, de recriar o Muro de Berlim, de promover um odioso e anacrônico "apartheid" aqui mesmo em São Paulo, a direção da USP bem que poderia se preocupar em enfrentar o problema da segurança, da realização de obras e das depredações, razões que alinha para justificar a medida.
Aliás a direção da USP é paga para isso pelos senhores cidadãos.
Não seria o caso de aproximar a população da universidade? Por que não abrir seus museus nos finais de semana? A função do poder público não é melhorar a qualidade de vida da população?
A OAB-SP, O DCE e o Instituto dos Arquitetos do Brasil estão cobrando essas respostas. Esperemos que consigam reabrir os portões antes que essa determinação detestável complete seu segundo mês de existência.

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