São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Demolição destrói painéis de Graz

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma demolição irregular na rua Estados Unidos (Jardins, zona oeste) destruiu dois afrescos de 1933 do artista modernista John Graz.
Os dois painéis estavam na casa de número 1.053, projetada pelo arquiteto Rino Levi para a família Ferrabino.
Apesar de a casa e de os afrescos não estarem tombados pelo patrimônio histórico, o traçado do bairro é tombado e qualquer demolição nos imóveis deve ser comunicada ao órgão que cuida do patrimônio histórico do Estado, o Condephaat.
O proprietário da casa, o empresário Nelson Gebara, afirmou que mandou derrubar os painéis por que eles "estavam horríveis". Segundo Gebara, as obras de arte eram dele e, como proprietário, faria o que quisesse com elas. Gebara disse ainda que tinha autorização para a demolição e que não temia as consequências.
José Carlos Ribeiro de Almeida, 56, presidente do Condephaat, nega que tenha sido autorizada a demolição e mostra um ofício de setembro do ano passado alertando Gebara que a demolição não poderia ser feita sem autorização.
No dia 6 deste mês o Condephaat embargou a obra e, segundo Almeida, no dia 7 os afrescos começaram a ser destruídos. Na sexta a destruição foi total.
Gebara vai ser multado em 30% do valor venal do imóvel. Ontem o Condephaat pediu novamente à prefeitura o embargo da demolição, que seguia firme até as 17h.
Na opinião do restaurador José de Anchieta Cardoso, 50, que chegou a fazer orçamento e negociar a remoção dos afrescos com Gebara, os painéis poderiam ser recuperados e retirados sem danos.
A operação demoraria um mês e custaria R$ 11.450,00.
"Mesmo que ele não tivesse dinheiro para fazer a remoção dos painéis, nós conseguiríamos patrocínio. O que nunca poderia acontecer é ele mandar enfiar a marreta numa obra de arte", afirmou Cândida Maria de Arruda Botelho, 49, arquiteta que está fazendo a curadoria de uma exposição sobre os trabalhos de Graz.
A mostra será apresentada em abril de 96 no MAM (Museu de Arte Moderna) e no Museu da Casa Brasileira.
A curadora critica a lentidão do Condephaat na preservação da casa: "Eles tinham que ser mais rápidos. Gebara tinha pressa para instalar sua concessionária de carros importados."

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