São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Malan diz que país volta a ter superávit

CARLOS ALBERTO SARDENBERG; FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem em São Paulo que considera superadas as preocupações com o balanço de pagamentos do Brasil. Os últimos dados referentes a fevereiro, informou, indicam que o país já recuperou o superávit nas transações financeiras com o exterior.
O que Malan não disse, mas se pode deduzir de suas declarações, é que o governo não julga necessário mudar sua política cambial. Isto é, não pretende desvalorizar o real, já que recuperou o superávit com a atual taxa de câmbio.
Até 10 de fevereiro, informou Malan, os exportadores brasileiros fecharam contratos de câmbio de US$ 1,998 bilhão. Já os importadores contrataram a compra de US$ 1,188 bilhão, ficando um saldo positivo de US$ 810 milhões.
No outro item do balanço de divisas, o movimento de capitais por conta de entrada e saída de investimentos, pagamentos de juros, royalties e outros serviços, houve déficit de US$ 476 milhões.
Saíram capitais no valor de US$ 1,249 bilhão e entraram US$ 773 milhões.
No cômputo geral, câmbio comercial mais movimento de capitais, o saldo é positivo, de US$ 334 milhões, em apenas dez dias.
Em novembro e dezembro últimos, o Brasil havia tido um déficit de quase US$ 1 bilhão só nas operações cambiais de exportação e importação. Esse fato, no momento em que ocorria crise no México, gerou pressões e expectativas de que o governo brasileiro poderia ser obrigado a desvalorizar o real, como fizera o México.
Para Malan, essas pressões e expectativas partiram de "pessimistas, céticos, consultores muito bem pagos, os mesmos que diziam que o Plano Real era recessivo e só duraria até as eleições".
Segundo o ministro, esses críticos, que estavam desmoralizados, voltaram à tona após a crise mexicana. "Mas vão errar de novo".
Acentuando o tom forte de suas palavras, Malan observou que o governo brasileiro vem dizendo desde o começo que a situação aqui era diferente do México. E agora, segundo o ministro, isso foi provado pela recuperação rápida do superávit.
Posse
Malan esteve em São Paulo para a solenidade de posse do novo presidente da Câmara do Comércio Americana, Henrique Meirelles, presidente do Banco de Boston. Outros três ministros estiveram na posse: Nelson Jobim (Justiça), Dorothéa Werneck (Indústria e Comércio) e Paulo Paiva (Trabalho).
Primeiro brasileiro a presidir a Câmara, Meirelles, ao comentar a fala de Malan, disse que, com o superávit, o BC não está sob pressão para mudar o câmbio. Ou seja, "tem tempo" para manter a atual taxa de câmbio, enquanto encaminha as reformas constitucionais.
Em especial, Meirelles apreciou a ênfase com que o ministro Malan insistiu nas diferenças entre o Brasil e o México. De fato, por mais de uma vez, o ministro garantiu: "Não deixaremos que o Brasil tenha um déficit em conta corrente semelhante ao que ocorreu no México; temos instrumentos para evitar isso e vamos utilizá-los".
Segundo Malan, nenhum ministro da Fazenda, em qualquer país, revela como pretende operar taxas de câmbio e de juros. Mas, observou, em tom forte: "Acreditar que o governo, por não anunciar, não tem instrumentos ou está dividido, é muita imbecilidade".

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