São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
Próximo Texto | Índice

Livro resume um dia do cinema no mundo

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

A Grã-Bretanha deixou para 1996 os principais eventos de celebração do centenário do cinema, adaptando a efeméride à história nacional. Mas o British Film Institute (BFI) oferece agora aos cinemaníacos um saborosíssimo aperitivo. É o luxuoso volume "World Cinema - Diary of a Day: A Celebration of the Centenary of Cinema" (Mitchell Beazley-BFI Books, 416 págs, 25 libras). Até agora, é a grande homenagem impressa ao centenário.
Uma idéia simples, mas precisa e original, deu origem a uma obra acima da média. O instituto britânico escolheu aleatoriamente um dia, 10 de junho de 1993, para representar "Um Dia na Vida do Cinema Mundial" e solicitou que lhe fossem enviados diários escritos no mundo inteiro por cinéfilos e profissionais do cinema.
Resultado: mais de mil textos, de quatro linhas a dez páginas, assinados por mestres como Akira Kurosawa e por centenas de anônimos amantes dos filmes. Coube ao crítico Peter Cowie, diretor das publicações internacionais da "Variety", botar ordem no caos e editar o material.
"World Cinema" acabou por reunir versões em geral resumidas de 420 diários. Os escritos foram agrupados tematicamente em 25 capítulos. "Esse mosaico de atividades, idéias e opiniões", escreve Cowie na introdução, "demonstra o extraordinário grau de envolvimento que o cinema exige". De fato, o livro parece abarcar o mais amplo espectro possível, do nascimento da idéia de um filme à sua fruição na sala com pipocas.
Antes de tudo, três características marcam o diagnóstico do cinema mundial. O primeiro é que, confirmando a intuição pioneira dos irmãos Lumière, a indústria do cinema tornou-se irreversivelmente internacional. O cosmopolitismo é a tônica dos diários.
O segundo ponto a destacar é a estressante rotina em que se confessam envolvidos todos os profissionais do cinema. Todo o glamour parece ter se concentrado no lado de lá da tela.
Terceira constatação: todo mundo precisa de dinheiro. Cinema é uma arte cara e são raros os profissionais que alcançaram a independência. Não surpreende que o mais longo dos capítulos seja o dedicado à viabilização dos projetos.
É o caso também da situação do cinema brasileiro. As diretoras Suzana Amaral e Ana Carolina sucedem-se no capítulo "Sobrevivendo Às Dificuldades" com depoimentos pessimistas semelhantes. Menos sombrio é o diário da montadora Maria Cristina Amaral. Ela afirma sentir-se "uma privilegiada" por estar trabalhando com Carlos Reichenbach na montagem de "Alma Corsária".

Próximo Texto: Diários mostram todo o processo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.