São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Vendedor diz que desconhecia falsificações

DA SUCURSAL DO RIO

O marchand Giuseppi Irlandini, 71, flagrado vendendo dois quadros falsos de Portinari e mais 41 telas suspeitas de outros pintores, disse que não sabia que os quadros eram cópias e que foi enganado.
Irlandini disse que comprou cerca de 15 quadros de pintores internacionais, incluindo Matisse e Picasso, por US$ 2.500, do espólio do milionário mineiro Hudson Schaeffer.
As outras telas, segundo o marchand, foram adquiridas por ele ao longo dos anos. Irlandini tinha, num galpão de sua galeria em Ipanema (zona sul), telas de Miró, Chagall, Guignard e Pancetti, e dos brasileiros Volpi, Djanira e Di Cavalcanti, entre outros.
Os Portinaris verdadeiros valem, cada um, cerca de US$ 300 mil. Caso fossem verdadeiras, as outras 41 telas valeriam US$ 100 milhões.
No depoimento que prestou ontem na Polícia Especializada do Rio, o marchand —que trabalha no mercado de arte há 30 anos— afirmou que não pediu certificado de autenticidade dos quadros.
"Ele disse que não duvidou da autenticidade e achou que estava fazendo um bom negócio", afirmou o delegado Arthur Cabral, que tomou o depoimento.
Irlandini só tinha os documentos de compra e venda de oito quadros, dos 41 sob suspeita encontrados em sua galeria em Ipanema.
Os dois Portinaris apreendidos na Galeria Irlandini — "Moças do Arcozelo" e "Três Mulheres"— já foram declarados falsos pelo Projeto Portinari, que cataloga os originais do pintor.
As duas telas são pastiches, ou seja, modificam elementos dos originais, como personagens e detalhes da paisagem.
O próximo passo da polícia é ouvir a viúva de Hudson Schaeffer e o homem apontado por Irlandini como intermediário na compra dos Portinaris, Márcio Neiva.
As 41 telas têm que ser periciadas. O delegado Arthur Cabral disse que pode pedir ajuda a especialistas de instituições de arte para examinar as telas. Até lá, as obras ficam empilhadas numa sala da delegacia.
Outros três painéis sacros e verdadeiros de Portinari, avaliados em US$ 300 mil cada, estão fechados há dez meses num cofre da Polícia Federal, no Rio.
Os painéis foram recuperados pela PF em abril do ano passado, depois de terem sidos roubados da capela Mayrink, na floresta da Tijuca (zona norte), em agosto de 93. O problema é que até hoje a PF não realizou perícia nos quadros e por isso o inquérito está parado. O processo foi enviado à 4ª Vara da Justiça Federal.
A PF não tem perito para avaliação de obras de arte. Só anteontem, depois do escândalo da Galeria Irlandini, a PF pediu ajuda ao Projeto Portinari para confirmar a autenticidade dos painéis.
O superintendente da Polícia Federal, Eleutério Parracho, informou por sua assessoria que "outros peritos foram solicitados, mas não puderam vir". Ele não identificou estes peritos.

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