São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Se toca Sampa: o Rio está dando de dez

BARBARA GANCIA

Esta paulistana esteve no Rio, domingo, assistindo ao primeiro Fla-Flu com Romário no Maracanã e, como constatado no caderno de Esportes de segunda, morri de inveja do espetáculo carioca. Há quase dez anos, o "Maraca" não via um público daqueles: 98,907 mil pagantes.
A insurreição do verão carioca contra o baixo-astral de mais de uma década de guerra nas ruas, resiste bravamente à retomada, na semana passada, dos tiroteios e mortes.
No Maracanã, o que mais se via eram casaizinhos aeróbicos, cocotas espetaculares, pais acoplados às mãos dos filhos e senhoras de guarda-chuva. Nem mesmo as enlouquecidas galeras de funqueiros rubro-negros e pagodeiros tricolores (ou seriam pagodeiros rubro-negros e funqueiros tricolores?) chegaram a meter medo. E olha que, para mim, não existe diferença entre elevador e ônibus lotado e um show dos Stones. Na minha matemática, qualquer aglomeração é sempre igual a pânico.
Mas, depois de dez dias mofando sob a chuva paulistana, o pique batido no Rio foi um alento. Descontado, claro, o vergonhoso preço da passagem da ponte aérea, que, descubro na partida em Congonhas, acaba de suspender o desconto do fim-de-semana.
Diante da festa carioca no estádio Mario Filho, que fechou o olho até para a falta do gol de Romário, me pergunto como São Paulo ainda permite que os manchas verdes da vida continuem a existir oficialmente.
Essa corja, que chamam de torcidas organizadas, não passa de bandidagem institucionalizada, de agremiações que reúnem o que há de mais doentio e truculento.
Sabemos que essa gentalha pouco se lixa para futebol. Sabemos que só vão aos estádios para extravazar seus recalques. Agem como os skinheads ingleses, que, antes de serem duramente coibidos pelos "bobbies" (polícia inglesa), costumavam aplacar o tédio e a falta de perspectiva esmurrando velhinhas no metrô.
Pois se todos estão cansados de conhecer a verdadeira fuça das torcidas organizadas, por que deixamos que continuem a existir, com razão social e sede estabelecidas?

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