São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Governador de Chiapas renuncia ao cargo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Eduardo Robledo, governador do Estado mexicano de Chiapas, sede do movimento guerrilheiro Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), renunciou ontem ao cargo, informou a agência oficial "Notimex".
A renúncia de Robledo, que ficou 68 dias no cargo, era uma das condições impostas pelos zapatistas para voltarem a negociar com o governo de Ernesto Zedillo.
O Congresso de Chiapas designou o economista Julio César Ruiz Ferro como governador interino. Ele pertence ao Partido Revolucionário Institucional (PRI, governista), o mesmo de Robledo.
Também ontem, o presidente Zedillo afirmou ter dado ordens ao Exército mexicano para que não tomasse nenhuma ação ofensiva contra a guerrilha.
Parecem aumentar assim as chances de uma solução negociada para o conflito, apesar da forte tensão reinante na região e denúncias de ataques e violações dos direitos humanos feitas pelo EZLN.
Não estava claro, entretanto, se Robledo estava renunciando ou se afastando temporariamente do cargo, conforme informaram algumas agências de notícias.
Segundo essas agências, Robledo, que antes de ser eleito governador trabalhou em duas gestões do PRI marcadas por atos repressivos, teria pedido ao Congresso de Chiapas uma licença de 11 meses.
Segundo a Constituição, licença de um ano implica em renúncia.
O EZLN não reconheceu Robledo como governador em dezembro por considerar que sua eleição só foi possível graças à fraude.
O segundo colocado na eleição, Amado Avendaño, do Partido da Revolução Democrática (PRD), se declarou "governador em rebeldia". Ele conta com o apoio dos zapatistas.
Robledo, por sua vez, pediu ontem a renúncia de Samuel Ruiz, bispo de San Cristóbal de las Casas e ligado ao EZLN, e que Avenda¤o deixe de afirmar ser o governador em rebeldia. Exigiu ainda que o EZLN deponha armas.
Avendaño disse que o afastamento de Robledo permitirá distender o clima de resistência civil que sua posse havia gerado.
"O governo mexicano teria evitado o derramamento de sangue se tivesse reconhecido o triunfo do PRD", afirmou.
Mas ressaltou que a renúncia de Robledo é apenas uma das condições para reestabelecer um diálogo entre as partes.
O líder do PRD na Câmara de Deputados na Cidade do México, a capital do país, disse que a iniciativa de Robledo "abre um bom espaço para uma saída política no Estado de Chiapas".
A situação na região se complicou desde a última quinta-feira, quando o presidente Zedillo anunciou ter descoberto a verdadeira identidade do líder do EZLN, o subcomandante Marcos, e ordenado sua captura.
Milhares de soldados invadiram então a área controlada pelos zapatistas e iniciaram uma caçada a Marcos, que segundo o governo seria na verdade Rafael Sebastián Guillén Vicente, de 38 anos.
Até o momento, o Exército teria prendido vários líderes da guerrilha, mas Marcos continua solto.
Os zapatistas acusam o Exército de atacar várias cidades de Chiapas, usando inclusive a Força Aérea, e bater e estuprar os moradores do Estado. O governo nega.
Os zapatistas estariam fugindo para as áreas de mais difícil acesso da selva Lacandona. Garantem que não vão se entregar.
O presidente Zedillo pediu ontem que os zapatistas "manifestem com clareza sua intenção de optar pelo via política e legal, para que se chegue a uma solução justa, digna e definitiva".
Os zapatistas iniciaram suas atividades em 1º de janeiro de 1994, exigindo reforma agrária, dignidade e justiça para os moradores de Chiapas, um dos Estados mais pobres e injustos do país.

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