São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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FHC acha pergunta da Folha 'demagógica'

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"O que o cidadão Fernando Henrique faria se recebesse mensalmente um salário mínimo de R$ 70?" A pergunta, feita pela Folha na entrevista coletiva de ontem, desagradou ao presidente, que a classificou de demagógica e sem sentido.
Embora contrariado, Fernando Henrique respondeu: "Não sobreviveria.". Antes, tentou devolver a indagação: "O que você faria?". Mas o jornalista insistiu: "Eu pergunto ao senhor."
Ao arrematar sua resposta, o presidente disse: "(...) Não tem o que fazer. O sujeito fica no desespero. E nós não podemos deixar milhões no desespero. Por isso temos de fazer a reforma (na Previdência), por isso temos que ser sérios e não engraçadinhos".
A questão que aborreceu o presidente foi a última de um total de 20. Um tom acima do utilizado nas respostas anteriores, Fernando Henrique disse estar "lutando para melhorar o salário mínimo", que classificou com adjetivos fortes: "ele é insuportável, ele é inaceitável, ele é uma vergonha".
A polêmica sobre o salário mínimo ganhou corpo desde que FHC decidiu vetar projeto do Congresso que elevava a remuneração para R$ 100.
Simultaneamente, o presidente reduziu em 25% os seus vencimentos (R$ 8.500) e os de seus ministros (R$ 8.000).
Em resposta a questões anteriores sobre o tema, Fernando Henrique disse que o governo tem se empenhado em favor do mínimo. Mencionou o reajuste de R$ 64 para os atuais R$ 70, concedido ainda na gestão Itamar Franco.
O presidente disse que, além de estarem expressos em real, uma moeda estável, os R$ 70 correspondem, na verdade, a US$ 85. De nada adiantaria, segundo suas palavras, elevar o mínimo para R$ 100, sem promover reformas na Previdência.
Na sua opinião, isso geraria inflação e, em seguida, a sociedade assistiria à desvalorização da menor remuneração paga no país. "Ele vira R$ 90, R$ 60, R$ 50, como sempre foi no passado".
O presidente explicou porque decidiu não incorporar ao salário mínimo o abono de R$ 15, também concedido à época de Itamar Franco. Disse que, embora irrisória, a quantia se agiganta se multiplicada pelos 15 milhões de trabalhadores que seriam beneficiados.
"Vai dar R$ 255 milhões por mês", afirmou. "Multiplique por 12 (número de meses do ano). Dá R$ 2,7 bilhões. Essa é a tragédia do Brasil (...) os que vivem de pouco são muitos".
Após expor os números, FHC reafirmou que o aumento do mínimo depende da aprovação de projetos que enviará ao Congresso na próxima semana. As propostas mexem na área da Previdência.

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