São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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O país do futuro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não começou nada bem o pronunciamento de ontem, do presidente. Fernando Henrique não queria prometer coisa alguma, daí:
— O Brasil está começando a despertar para perceber que ele já é um país que tem condições de ter um futuro.
Quer dizer, ainda nem despertou para perceber que pode ter, quem sabe, um futuro. "Futuro" que foi a palavra mais repetida, ontem:
— (As reformas) vão permitir que essas demandas possam ser atendidas de forma estável e que essa forma estável não seja só para a atual geração, mas tenha uma perspectiva de futuro.
Primeiro foram as "condições de ter um futuro", depois a "perspectiva de futuro", aí ele mudou um pouco, para não cansar a audiência:
— Nós estamos começando a divisar no horizonte que há um horizonte de prosperidade.
No horizonte, no futuro, tudo vai ser, quem sabe, melhor. Vai ter, quem sabe, até para os aposentados. Um exemplo:
— Sem as reformas, eu não terei condições de dizer que as pessoas no futuro terão uma garantia de aposentadoria digna.
O futuro é tudo, para o presidente do presente. É a razão de ser e a desculpa da administração Fernando Henrique:
— É obrigação do homem de Estado zelar, não só pela sua gestão, mas pelo país e pelas gestões futuras.
— Eu tenho que pensar no futuro. Não é no governo dos governantes futuros, é no futuro do Brasil, do povo do Brasil.
— O governo quer é dar mais às gerações futuras também. Não dilapidar um patrimônio social. Tem que pensar no dia de amanhã.
— Essas mudanças não vão alterar nada no caixa. É uma questão de filosofia e de responsabilidade para com o futuro.
— Não se fala tanto que temos que pensar nas crianças? E pensar na criança não é pensar no futuro da criança?
— E os direitos futuros? E os direitos dos que estão nascendo hoje?
Quanto aos vivos, quanto ao presente, quanto aos que ganham salário mínimo no presente, Fernando Henrique deu voltas e reagiu como na resposta sobre Deus, dez anos atrás. Mas acabou por lembrar que eles não sobrevivem.

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