São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Seringas reutilizáveis provocam demissão

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, exonerou ontem o médico Antônio Celso Iervolino, diretor-adjunto da Administração Regional de Saúde 7. Ontem, a Folha noticiou que o médico, em ofício datado do último dia 3, determinou a volta do uso de seringas de vidro reutilizáveis nos postos de saúde da zona norte da cidade.
Em entrevista anteontem, Iervolino disse que a medida foi necessária porque os estoques de seringas descartáveis na prefeitura estavam acabando e ele temia que faltassem durante o Carnaval, quando a demanda aumenta.
O secretário municipal da Saúde, Getúlio Hanashiro, afirmou ontem que a Administração Regional de Saúde da região central também está sem estoques de seringas descartáveis. Na segunda-feira, o diretor da regional, Fernando Fernandez, foi exonerado por problemas administrativos.
Segundo Hanashiro, a secretaria não tinha sido informada de que haveria falta de seringas. Disse também que a responsabilidade pela compra de seringas é das administrações regionais, que têm autonomia para isso.
O secretário afirmou ainda que, somando os estoques de todas as administrações regionais, a prefeitura tem 935.110 seringas. "É o suficiente para oito meses."
Ontem, a Secretaria da Saúde enviou estoques de seringas para os postos de saúde e hospitais da zona norte. No Pronto-Socorro de Santana, chegaram 500 seringas. Em situações normais, o estoque é de 10 mil unidades.
Segundo a Folha apurou, no PS Santana as seringas de vidro já vinham sendo usadas há um mês por falta das descartáveis. As 500 seringas foram entregues após a publicação da reportagem.
A volta do uso de seringas de vidro foi criticada por médicos. Eles afirmaram que o processo de desinfecção de uma seringa é complexo e que ela pode transmitir doenças como hepatite e Aids.
Para o professor associado da cadeira de doenças infecciosas da USP, Rudolf Hutzler, a medida não é recomendável "mesmo imaginando-se que os serviços de saúde da prefeitura sejam bons."
Para o infectologista do Hospital Emílio Ribas Caio Rosenthal, a medida é um "absurdo" e revela a "falência" do serviço de saúde em São Paulo. "Não temos mais dinheiro nem para seringa", diz.

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