São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Estádios se tornam 'elefantes cinzentos'

IVES DE FREITAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A situação dos estádios paulistanos mostra a condição a que foram relegados pelos dirigentes nas últimas décadas. A referência é antes de tudo de caráter nacional, pois a maioria dos estádios brasileiros possui, em média, de 25 a 30 anos, sem que tenham merecido a necessária conservação, manutenção e melhoria.
No fim da década de 60, o regime militar fez do futebol um dos seus prioritários instrumentos de propaganda política, associando a conquista da Copa de 70 ao malfadado "milagre econômico".
Sob a égide do esporte nacional/popular, tivemos o início da comercialização da TV em cores e o apoio à construção de estádios nas principais capitais. Foram projetados e calculados para atender aos jogos de futebol, prevendo a sua utilização para outras modalidades, mas não antecipando as adaptações técnicas hoje realizadas para qualquer evento, cultural, recreativo ou religioso.
A crise do futebol nos últimos anos afastou o público e, com ele, a arrecadação indispensável à manutenção dos "elefantes cinzentos" em que se transformaram.
Ao longo da década de 80, passaram a ser utilizados para a promoção de toda a série de eventos, obtendo as receitas necessárias, mas não investindo as mesmas na conservação e manutenção dos estádios. A prefeita Luiza Erundina de Sousa ao sancionar o Decreto nº 27.820, de 89, que ficou conhecido como o Decreto de Segurança dos Estádios, respondeu objetivamente a essa tendência e as questões que motivaram vários incidentes com vítimas fatais, em nível internacional.
Na oportunidade, foram analisados vários incidentes ocorridos desde 64. Dentre eles, a principal tragédia, com ampla repercussão, ocorreu no estádio de Hillsborough, em Sheffield, Inglaterra, vitimando 95 torcedores devido ao excesso de lotação e à briga entre as torcidas do Juventus e o Liverpool, em abril de 89.
Mais recentemente, em janeiro de 94, um tumulto no estádio de Orkney, na África do Sul, ocasionou 40 mortes e 50 feridos, sendo lamentavelmente superado pela queda da arquibancada no estádio de Furiani, em Bastia, Corsega, em maio de 92, registrando 15 mortes e 527 feridos, por decorrência direta do excesso de lotação das arquibancadas.
A segurança dos estádios deve considerar não só as questões técnicas relativas ao conjunto da edificação, mas sobretudo a segurança de uso propriamente dita, envolvendo a ação do poder público, a responsabilidade dos dirigentes esportivos e a conscientização da população.
Hoje, a CBF e a FPF devem avançar nas normas fixadas pela Fifa, fazendo com que os problemas constatados nos estádios paulistanos sejam preventivamente resolvidos no interior de São Paulo e por todo o Brasil.
Como disse Muddy Waters, inspirando os Rolling Stones, "pedras que rolam não criam limo", resta que a bola corra solta nos estádios, marcando um gol de placa com a segurança dos torcedores.

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