São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Gidon Kremer luta contra o 'burocratismo'

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Gidon Kremer não se contenta em, apenas, tocar as notas corretas de seu violino. Estudando sempre a música contemporânea, busca dar a suas interpretações elementos que a diferenciem do que chama de "burocracia" das interpretações atuais.
Recentemente, gravou o concerto de Schumann com Nikolaus Harnoncourt e a integral das sonatas de Beethoven, com Martha Argerich. Outro disco elogiado foi a transcrição para violino do concerto para cello do compositor alemão, com orquestração de Chostakóvitch.
"A orquestração de Schumann talvez seja mais convincente, mas a idéia era mostrar como um grande compositor do século 20 pensava a obra de um grande compositor do século 19."
Cansado de tantas atividades, diz que gostaria de se dedicar mais à vida privada. Mas está prestes a gravar um concerto do compositor ucraniano contemporâneo Valentin Silvestrov, além de uma agenda de recitais que inclui peças de John Adams e Schnittke.
Em entrevista exclusiva à Folha, concedida de sua casa, em Paris, Kremer fala sobre sua vinda ao Brasil, em 20 e 21 de abril, na temporada do Mozarteum.

Folha - Você está vindo para o Brasil com o grupo Kremerata. Que grupo é este?
Kremer - Este grupo está intimamente ligado ao festival que fundei há 16 anos em Lockenhaus (Áustria). Há três anos, dei ao festival o nome de Kremerata Musica. Os componentes do Kremerata são sempre diferentes. Eles têm seus projetos paralelos, mas, uma vez por ano, fazemos turnês em diversos países.
Folha - É um festival de música de câmara?
Kremer - Sim. Também buscamos tocar música menos conhecida pelo público. O festival acontece sempre em julho e, desde que se chama Kremerata, tem um tema por ano. Em 92, fizemos Schubert e Chostakóvitch; em 93, Schumman e Mozart; no ano passado, Schõnberg e seus contemporâneos. Neste ano, ele é dedicado à compositora russa contemporânea Sofia Gubaidúlina.
Folha - No Brasil, o grupo vai tocar compositores de diferentes períodos, como Mozart, Weber, Janácek e Gubaidúlina. O que têm a ver um com o outro?
Kremer - Eles têm diferentes estilos. Cada programa tem sua estrutura. A relação de peça para peça é como um roteiro. Nenhum programa deve ser chato. Tentamos levar ao palco um programa que mantenha acordado o mais preguiçoso dos ouvintes.
Folha - Qual a sua relação com compositores russos contemporâneos como Schnittke e Gubaidúlina?
Kremer - Eu vivi 15 anos em Moscou, estudando com David Oistrakh. A Rússia é parte da minha vida. Estive em contato com as pessoas. Minha amizade com Alfred Schnittke começou há 25 anos, quando ele ainda não era um compositor reconhecido. Hoje ele é um dos compositores mais executados no mundo, mas isto não mudou nada na minha amizade.
É gratificante ver um compositor desconhecido virar celebridade, como aconteceu também com Sofia Gubaidúlina e Arvo Pãrte. Estou sempre trabalhando com contemporâneos, como Stockhausen. Recentemente, gravei concertos de compositores americanos, como Philip Glass e John Adams. Mas sem perder contato com os antigos, porque Schubert e Mozart são pelo menos tão importantes quanto os autores que mencionei.

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