São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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França perde apoio ao protecionismo

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

O vinho de Bordeaux correu solto, mas não foi o suficiente. A França não conseguiu convencer os outros países da Comunidade Européia a reforçar o protecionismo aos filmes europeus na TV.
A reunião entre representantes dos ministros da Cultura europeus, esta semana, em Bordeaux (sudoeste francês), foi um fracasso para a França, que se viu isolada.
Pior ainda, as barreiras já existentes foram questionadas pelos países do norte da Europa, em especial a Dinamarca.
Atualmente está em vigor a norma "Televisão sem Fronteiras", de 1989, que obriga as TVs européias a transmitir, "sempre que realizável", mais de 50% de obras do continente.
Para a França, a norma é insuficiente, devido exatamente à expressão "sempre que realizável", que permite driblar a exigência.
Só que, em vez de reforçá-la, como desejava Paris, os Quinze podem até suprimi-la, em uma nova reunião em abril.
Suécia, Dinamarca, Holanda e Irlanda se opuseram à norma atual. A ministra espanhola da Cultura, Carmen Alborch, deseja apenas a manutenção da "Televisão sem Fronteiras".
Antes da reunião, o ministro da Cultura francês, Jacques Toubon, afirmava que a França "lutaria até o fim" para proteger a Europa da invasão norte-americana.
Nesse esforço, Toubon chegou a levar os participantes a uma sessão de degustação em uma adega do melhor vinho Saint-Emilion.
Mas, ao término da reunião, na terça, só a Grécia parecia disposta a apoiar os franceses.
Os Quinze, no entanto, aprovaram a duplicação da verba para o programa "Media", de apoio à indústria cinematográfica européia, que passa para US$ 480 milhões.

Frutos
Além da norma européia, a França tem exigências próprias que protegem os filmes franceses. As emissoras de TV são obrigadas a transmitir pelo menos 40% de "filmes de expressão original francesa".
As emissoras francesas também devem investir pelo menos 3% do orçamento no cinema e 15% na produção de programas franceses.
Todos os canais, somados, representam um investimento em cinema de mais de US$ 60 milhões por ano, do qual a produção francesa se tornou dependente.
O apoio aos produtores tem dado frutos nos últimos anos. Um exemplo é a série "Todos os Meninos e Meninas de sua Idade", exibida no final do ano passado pela rede franco-alemã Arte.
Vários cineastas franceses foram convidados a dirigir filmes sobre a adolescência. Um desses filmes, "Rosas Selvagens", de André Téchiné, que estréia hoje em São Paulo, ganhou prêmios e foi um sucesso inesperado no cinema.

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