São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Besson prefere médicos a Godard

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

"O Profissional", o mais novo trabalho do cineasta francês Luc Besson, 36, que chega hoje aos cinemas, mostra a história de amor entre um assassino profissional e uma garota de 12 anos.
Mostra também o encontro do diretor com uma suposta "maneira americana" de fazer filmes, apesar de insistir que seu trabalho ainda é o de um francês, como disse em entrevista à Folha na semana passada, quando esteve no Brasil para divulgar seu filme.
Nesta entrevista, Besson fala de seu último trabalho (o primeiro rodado nos EUA), sua idéia de um cinema nacional e a rejeição à Nouvelle Vague.

Folha - Por que a necessidade de uma menina e não uma mulher em "O Profissional"?
Luc Besson - Penso que é um bom contraste para ser trabalhado. Um assassino e uma menina. Uma associação de contrários. Ela, jovem, feminina e inocente. Ele, um assassino. Dois extremos que necessitam da mesma coisa. Uma história de amor, enfim.
Folha - Uma história de amor que se passa em Nova York. Por que a mudança? Foi uma tentativa de alcançar o mercado americano?
Besson - O que você chama de mudança?
Folha - Sua ida para os EUA.
Besson - Isso é errado. Meu filme é um filme francês. A história se passa em Nova York porque era o lugar ideal para contá-la. Meu filme não é um filme americano! Se você olhar os créditos do filme verá que a equipe é francesa.
Folha - Mas seu astro é o inglês Gary Oldman.
Besson - Porque o personagem pedia isso. Se eu filmasse no Peru, as pessoas diriam é que um filme peruano? As cenas de estúdio foram feitas em Paris.
Folha - Mas "O Profissional" é um filme internacionalista.
Besson - Isso porque as pessoas fazem uma confusão com o conceito de nacionalismo. Um filme é um filme. Hollywood é uma fábrica. As pessoas dividem os cineastas como pertencentes à indústria e os artesãos. Isso não tem a ver com o país.
Folha - E você se vê como um artesão?
Besson - Eu não pertenço à fábrica. Woody Allen é um artesão na indústria. Martin Scorsese às vezes é um homem da indústria, às vezes é um artesão. Você pode achar um artesão em qualquer lugar. Isso é o que interessa.
Folha - Mas seu país tenta defender o mercado das produções americanas.
Besson - Eles e não eu.
Folha - E sobre a versão de "Nikita" feita nos EUA?
Besson - Não é uma versão. É uma cópia, e eu detesto cópias.
Folha - No início dos anos 80, seu cinema, assim como o de seus companheiros de geração, Léo Carax e Jean-Jacques Beinex, foi decisivo para criar uma nova maneira de fazer cinema na França. Dez anos depois, o que você pensa daqueles anos?
Besson - Isso de geração é algo que a crítica inventou. Hoje eles nos olham e dizem: "Há! Eles não representam mais nada". Isso porque já não representava nada há dez anos no que se refere a "uma geração". Não somos um grupo. Somos como rios. Não temos a mesma nascente, mas terminamos no mesmo lugar.
Folha - De alguma maneira vocês tentavam deixar para trás as idéias da Nouvelle Vague?
Besson - Que Nouvelle Vague?
Folha - O cinema de Truffaut, Godard, Rivette...
Besson - Não. Não tenho influências de pessoas ligadas ao cinema. O que me influencia é alguém como um médico, que todos os dias faz um transplante de coração e volta para a casa, sabendo que fez algo de importante para os outros. Eu não me importo com o que Godard faz ou deixa de fazer.

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