São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Zapatistas e governo do México vivem impasse

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As negociações entre o governo mexicano e o movimento guerrilheiro Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) vivem um impasse, apesar da situação mais calma no campo militar.
Ambos estão intransigentes em suas posições, apesar da declarada disposição de negociar.
Essa intransigência se traduz em uma guerra de comunicados, iniciada após o anúncio do governo de que não mais iria caçar os líderes do EZLN.
Os guerrilheiros concederam ontem duas entrevistas. Em uma delas, a major Ana Maria denunciou o drama de mulheres, idosos e crianças deslocados com a guerrilha para as áreas mais inóspitas da selva Lacandona.
Estas pessoas estariam passando fome e à mercê de doenças.
A guerrilha teve que recuar para estas áreas para fugir do Exército, que na última sexta-feira resolveu invadir regiões até então sob controle dos zapatistas.
Não se pode negociar com quem te persegue, disse Ana Maria, uma das líderes dos rebeldes, a um grupo de jornalistas.
Várias mulheres estão tendo desmaios por causa da falta de alimentos. Elas não aguentarão muito, afirma a guerrilheira.
Ela disse também que a guerrilha está pronta para negociar se o Exército se retirar da Chiapas.
Por sua vez, o presidente Ernesto Zedillo pediu em um discurso ao EZLN que manifeste com clareza sua intenção de optar pela via política e legal.
Na noite de anteontem, o ministro do Governo mexicano, Esteban Moctezuma, pronunciou uma mensagem na qual afirmou que as ordens de prisão aos líderes zapatistas não haviam sido canceladas.
Segundo ele, o governo do México havia simplesmente suspendido as buscas.
O mesmo ministro afirmou que a operação militar em Chiapas foi exemplar por sua eficiência e seu caráter pacífico. Hoje já não há território supostamente controlado por uma força distinta que às reconhecidas legitimamente.
A frase foi considerada um indício de que o governo não sairá do Estado de Chiapas.
A renúncia do governador Eduardo Robledo, anunciada na terça-feira, não satisfez os zapatistas. Essa era uma antiga reivindicação da guerrilha, que considera que Robledo havia vencido as eleições através de fraude.
Mas agora o EZLN quer que o candidato derrotado Amado Avenda¤o assuma o cargo. Foi o que declarou ontem o guerrilheiro Tacho em uma entrevista.
É praticamente impossível que isto venha a ocorrer, uma vez que o economista Julio César Ruiz Ferro já tomou posse do cargo.
A Unesco pediu ontem a saída do Exército de Chiapas e que o governo mexicano pare de perseguir os rebeldes zapatistas.
Milhares de manifestantes se reuniram na noite de anteontem na praça da Constituição em protesto contra a política do governo em relação aos rebeldes.

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