São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Ieltsin defende ação na Tchetchênia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente russo, Boris Ieltsin, fez ontem seu discurso anual no Parlamento, em que defendeu a operação militar da república separatista da Tchetchênia.
O discurso de quase uma hora, considerado fraco por muitos parlamentares, foi transmitido ao vivo para todo o país. Ieltsin tentou recuperar parte da popularidade perdida nos últimos tempos.
Nós permanecemos muito tempo esperando que a situação na Tchetchênia se resolvesse por si só. Isto foi um erro fatal, disse o presidente russo.
Segundo Ielstin, fenômenos como o Cartel de Medellín, o Triângulo de Ouro (região de produção de heroína no sudeste da Ásia) e a ditadura na Tchetchênia não se resolvem por si só. Justificaria-se então, de acordo com ele, a ação militar.
A Tchetchênia declarou-se independente da Rússia em 1991. Os russos não aceitam a independência, e desde 11 de dezembro mantêm tropas na república para sufocar os rebeldes.
Mas, se Ieltsin defendeu a operação, criticou os líderes militares. Teria faltado coordenação entre as Forças Armadas, o Ministério do Interior e a contra-espionagem.
Fracassos, derrotas e erros dos comandantes abriram espaço para a violação dos direitos humanos nos combates. O presidente vem sendo duramente criticado por excessos cometidos pelos russos.
Apesar das críticas, Ieltsin previu um papel mais importante para o Exército daqui para frente, com possíveis intervenções russas em territórios da ex-União Soviética.
Ele criticou a proposta de expansão da Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos). A Rússia teme ficar isolada se os antigos países do bloco comunista passarem a ingressar a Otan.
No campo econômico, o presidente prometeu o fim da inflação ainda em 1995. Disse que o país deve se preparar para atrair capitais externos.
O presidente leu a maior parte do discurso, considerado monótono pelos parlamentares e analistas.
A primeira coisa que me impressionou foi que Ieltsin conseguiu fazer um discurso de uma hora", afirmou o parlamentar Alvars Lezdinsh. Trata-se de uma ironia baseada em rumores de que Ieltsin se embriagaria.
Analistas apontaram várias contradições do presidente russo como afirmar o controle rigoroso à inflação e ao mesmo tempo defender aumento de gastos públicos.
O secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, disse que os americanos ainda estavam estudando o discurso, mas comemoraram o fato de Ieltsin ter mantido o calendário eleitoral (eleições parlamentares em dezembro e presidenciais em junho de 1996).
Havia muitas especulações de que Ieltsin pudesse tentar cancelar as eleições em consequência da queda em sua popularidade.

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