São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 1995
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Médico culpa Saúde por seringa de vidro

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Antônio Celso Iervolino, que foi exonerado da prefeitura na quinta-feira por determinar o uso de seringas reutilizáveis, disse ontem que que tomou a medida porque a Secretaria Municipal da Saúde demorava para autorizar a compra de seringas descartáveis.
"Eu já estava sem alternativa. Era uma agonia, os pacientes tinham que comprar as seringas em farmácias e trazer para o hospital", disse.
Na manhã de quinta-feira passada, a reportagem da Folha encontrou pacientes no Pronto-Socorro do Tatuapé comprando seringas para aplicações em farmácias próximas.
No mesmo dia, um médico do pronto-socorro, que pediu para não ser identificado, procurou a reportagem e disse que havia um mês já estavam sendo usadas seringas de vidro.
Segundo Iervolino, ele já havia comunicado à Secretaria da Saúde que havia falta generalizada de remédios e outros produtos. "Em agosto de 94, essa reclamação foi registrada em um ofício para o secretário."
Iervolino continua como médico da prefeitura, mas perdeu o posto de diretor-adjunto da Administração Regional de Saúde 7, responsável pela zona norte de São Paulo. "Eu não me arrependo do que fiz. Tenho certeza de que os pacientes saíram ganhando", disse.
A afirmação do médico contradiz o secretário municipal da Saúde, Getúlio Hanashiro. Ao exonerar Iervolino, ele afirmou que o médico foi "incompetente", pois teria "autonomia" para comprar as seringas sem passar pela secretaria.
Ontem, a assessoria de Hanashiro confirmou que o processo para a compra das seringas passa pela secretaria, que precisa liberar a verba da compra na Secretaria das Finanças.
Ainda segundo a assessoria do secretário, a demora para a compra das seringas acontece porque a legislação que regula o processo exige o cumprimento de várias etapas.
A assessoria disse também que Iervolino deveria pedir seringas emprestadas de outras Administrações Regionais.
A volta das seringas de vidro foi criticada por médicos infectologistas. Segundo eles, se a seringa não for bem esterilizada, pode ocorrer a contaminação de pacientes por Aids ou hepatite.

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