São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 1995
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Julie Delpy conquista festival de Berlim

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Julie Delpy foi para Hollywood para ficar. A atriz francesa de "A Igualdade é Branca" (Krzysztof Kieslowski) e "Detetive" (Jean-Luc Godard) mudou-se há cinco anos para Los Angeles e não pretende voltar à França.
Ao lado de Ethan Hawke ("Sociedade dos Poetas Mortos"), Delpy estrela "Antes do Amanhecer", um dos raros destaques da competição de Berlim-95. Trata-se de uma sensível comédia romântica sobre o encontro num trem de dois jovens, ele americano, ela européia, que decidem passar juntos a última noite longe de casa. "Antes do Amanhecer" foi bem recebido pela crítica e ovacionadíssimo pelo público na primeira sessão oficial.
Julie Delpy falou à Folha num encontro com um restrito grupo de jornalistas na tarde de anteontem. Articulada e simpática, usava um figurino completamente despojado —camiseta preta e jeans surrados. Ainda assim, era o próprio anjo de Boticelli, como é descrita sua personagem no filme.

Folha — "Antes do Amanhecer" é essencialmente uma conversa e sua língua original é o francês. Como você desenvolveu o inglês?
Julie — Sim, foi um grande passo de Richard Linklater me dar este papel. Mas nós conversamos muito. Estou vivendo em Los Angeles há cinco anos e desde os 16 anos venho sempre aos EUA.
Folha — Sua mudança para os EUA teve motivos pessoais ou profissionais?
Julie — Estritamente pessoais. Gosto muito do EUA. Há um tipo de energia diferente. Meus pais não me educaram para gostar muito dos EUA, vi tanto cinema russo quanto americano. Na primeira vez que estive em Los Angeles, houve um acidente horrível e a cidade estava impossível. No ato pensei: é aqui que vou morar.
Folha — Você acredita no desenvolvimento de uma carreira no cinema americano, mesmo sabendo que ele tem rejeitado atores europeus não-ingleses?
Julie — Sei que é impossível. Quando vim para cá, um diretor amigo me falou: "Não vá. Não vai dar certo. Você vai voltar em um ano". Eu respondi: "Bem, então até daqui um ano!" Estou já há cinco anos trabalhando nos EUA. Fiz "Os Três Mosqueteiros", "Younger and Younger", "Killing Zoe", entre outros. Quando ficar cinco anos sem trabalho, talvez tenha fracassado. Sei que é duro. Mas é também difícil desenvolver uma carreira na França. Não há também muitos bons filmes lá.
Folha — Você trabalhou em "A Igualdade é Branca" da trilogia de Kieslowski. Apesar de estar escrevendo roteiros, ele afirma ter se aposentado. Você sentiu nas filmagens algum sinal do cansaço dele com o cinema?
Julie — Ele não estava cansando de dirigir, mas estava cansando. Só cansado. Ele é uma pessoa muito radical. E tem exigido muito de seu corpo. Depois de fazer em seguida três filmes como aqueles, até eu diria "desisto".
Folha — Ele sempre afirmou gostar mais de escrever e montar do que filmar.
Julie — Eu entendo isso. A filmagem é tão tensa e louca, com todo mundo fazendo muita coisa sem que se tenha muito controle. Mesmo eu, que só escrevi e dirigi um curta, senti que escrever era mais divertido e que montar exigia maior concentração que dirigir.
Folha — Como é esse curta?
Julie — Rodei-o no ano passado. Se chama "Bl-±Bl-Bl" e trata de pessoas interessantes em Los Angeles. É uma pequena comédia. Mas não sei ainda se tentarei fazer um longa.

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