São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 1995
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MAC expõe transição dos anos 80

KATIA CANTON

Era o que faltava para preencher o gap geracional do acervo do MAC (Museu de Arte Contemporânea). Com a mostra "Geração 80", que inaugura essa semana na sede USP, o museu estabelece a ponte cronológico-estética entre a arte conceitual dos anos 70 e as instalações anos 90.
Com curadoria de Helouise Costa e Cristina Freire, "Geração 80" dá ao visitante uma noção das transformações ocorridas a partir do final dos anos 70.
"O conceitual, a arte postal dão lugar à pintura em grande escala, que muitas vezes aparece lúdica. Há uma volta ao prazer de pintar, como o que transparece na obra de Paulo Monteiro, Emmanuel Nassar e Daniel Senise", diz Freire.
"O suporte se modifica: o chassi é abandonado e substituído, por exemplo, por tecidos e formas recortadas", lembra Costa. Exemplos: a vitrola feita em lona ("Sem Título", 1963) de Iran do Espírito Santo e a "Onça Pintada" (1984) de Leda Catunda, feita com acrílica sobre cobertor.
A exposição se utiliza de artistas-mestres, que não pertenceram à geração 80, mas que foram referências para tal. Esse é o caso de Mira Schendel, que levou o conceitual às consequências de exploração matérica. Outros mestres presentes são Regina Silveira e Carmela Gross —ambas combinando produção artística com formação acadêmica—, além de Ubirajara Ribeiro e Wesley Duke Lee. Ali estão também instalações. O tema "cadeiras" toma corpo nos objetos de Ivens Machado ("Sem Título", 1988), feitos em concreto armado, arame e tubo galvanizado. Próximo deles está "Parla", de Cildo Meireles, em que uma cadeira é empilhada com blocos de granito. Trata-se de uma obra maciça, em sua brutalidade, inerte e muda —o que estabelece uma relação irônica entre a obra e seu título. Luiz Hermano assina um peão feito de estrutura de ferro.
"Geração 80" lembra que, há nove anos, os museus tiveram papel fundamental para o estabelecimento de novos artistas e movimentos. O MAC, particularmente, fez a exposição "Casa 7" em 1985, com Nuno Ramos, Paulo Monteiro, Carlito Carvalhos, Rodrigo Andrade e Fábio Miguez.
O próprio Nuno Ramos foi vencedor do prêmio Emile Edée, então doado através do museu. Hoje, com a redução de patrocínios para curadorias próprias nas instituições, o papel de "lançador de talentos" está cada vez mais concentrado nas mãos dos marchands.

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