São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 1995
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Premiê da França reage ao fracasso na campanha

ANDRÉ FONTENELLE

O premiê da França, Edouard Balladur, decidiu arregaçar as mangas na campanha presidencial. A crise de sua candidatura vai levá-lo a realizar mais comícios.
Escândalos de corrupção, ataques de todos os lados e manifestações estudantis transformaram a face de uma campanha que parecia destinada a uma vitória fácil de Balladur, em maio.
Seus principais adversários, o socialista Lionel Jospin e o conservador Jacques Chirac, subiram nas pesquisas, embora elas ainda mostrem Balladur à frente dos dois no segundo turno.
O ministro do Interior, Charles Pasqua, é acusado de tentar frear a Justiça, em um escândalo de corrupção que pode atingi-lo.
Esquerda e direita acusam o primeiro-ministro de " imobilismo". Os estudantes foram às ruas e conseguiram a retirada de um projeto de reforma do ensino, o que deu corda a seus críticos.
Anteontem, Balladur realizou seu primeiro comício, em Nogent-sur-Marne, periferia de Paris.
O ato público foi marcado por um imprevisto. Ferroviários invadiram o local, com apitos, tornando inaudível o discurso do candidato. Eles protestavam contra o fechamento de oficinas.
O público tentou abafar os apitos, aos gritos de "Balladur presidente". Seguranças retiraram à força os manifestantes e o primeiro-ministro, visivelmente constrangido, retomou o discurso.
O mais incisivo no comício foi Charles Pasqua. Ele vem pedindo que Chirac renuncie à candidatura, para evitar que Jospin tire proveito da divisão dos conservadores.
"Será que somos definitiva, irremediável e incuravelmente a direita mais imbecil do mundo? Quando vamos agir como adultos?", perguntou Pasqua.
Como se a divisão atual não bastasse, Balladur também foi criticado pelo ex-presidente Valéry Giscard d'Estaing e pelo ex-premiê Raymond Barre, ambos de centro-direita.
Os dois publicaram ontem artigos com fortes críticas ao governo, reforçando a impressão de que também vão entrar na campanha.
A Frente Nacional (extrema direita) também alfinetou Balladur, acusando-o de plágio.
O comício do premiê imitou os dos neofascistas em dois pontos: a música de abertura (do filme "1492") e o papel picado nas cores da bandeira francesa, jogados sobre o público ao final do evento.

Corrupção
Mas a corrupção deverá ser o pior problema para o premiê durante a campanha presidencial. Um ex-ministro de Balladur está na cadeia, aguardando julgamento, e outro está sendo processado.
O desgaste de dois anos de governo começa a pesar. "Eu não sou o candidato do governo", disse Balladur no comício, lembrando que os socialistas governaram por dez dos últimos 14 anos, e que o chefe de Estado ainda é o socialista François Mitterrand.

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