São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Setor se transforma num balcão de negócios

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois exemplos recentes mostram que as concessões para serviços de telecomunicação se transformaram em um balcão de negócios no Brasil. O maior deles está na TV a cabo, que começou a ser implantada a partir de 101 concessões dadas em 1990 e 1991.
Na época, algumas empresas, a maioria pequenas e sem capital, obtiveram concessões para transmitir sinais de TV por meios físicos (cabo) e a este serviço, criado por portaria assinada em 1989 pelo ex-ministro Antônio Carlos Magalhães, deu-se o nome de Distv.
A pedido do Congresso, que começava a discutir a lei da TV a cabo, o governo suspendeu as concessões de Distv em 1991. Como os deputados levaram três anos para aprovar a lei, as concessões que existiam foram compradas por grupos, como a Globo e empresas argentinas, que tinham capital para explorar o serviço.
O fenômeno se repetiu na implantação da telefonia móvel para uso interno de empresas (trunking). Em dezembro de 93, último mês da gestão de Hugo Napoleão no Ministério das Comunicações, foram distribuídos 220 canais de trunking a 11 empresas em São Paulo. Cada uma com 20 canais.
Em um ano, segundo levantamento da Telecom (revista especializada em telecomunicações), a maior parte das concessões foram renegociadas, ao preço de até R$ 85 mil o canal, o que dá R$ 1,7 milhão por concessão. Hoje, mais de dois terços do mercado está concentrado em três empresas, duas delas —Airlink e MTCB— associadas a grupos americanos.
O mesmo processo é esperado na radiochamada, especialmente em São Paulo. O serviço de radiochamada (também chamado pager) começou a ser implantado no Brasil em 91.
Por convenção internacional, o serviço só pode ocupar 40 frequências, ou seja, só podem ser dadas 40 concessões por cidade. Só nos dias 29 e 30 de dezembro, foram publicadas oito permissões para a capital paulista.
Segundo informações do mercado, restam ao governo apenas cinco frequências na cidade de São Paulo para serem distribuídas.

Grandes grupos
Os maiores grupos empresariais do país -Bradesco, Unibanco, Safra, Itamarati, Odebrecht, Andrade Gutierrez, entre outros- apostam na quebra do monopólio estatal das telecomunicações e preparam-se para disputar o mercado.
Os serviços mais rentáveis —telefonia celular e transmissão de dados— só poderão ser explorados com mudança na Constituição, mas enquanto isso não ocorre as empresas correm para ocupar espaços na radiochamada e trunking.
A Ferronorte —Ferrovias Norte Brasil, de Olacyr de Morais— está entre as empresas que foram autorizadas a explorar o trunking, por portarias publicadas na última semana de dezembro. As permissões abrangem 24 cidades do interior de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
No início de dezembro, o grupo Rádio e TV do Amazonas (principal empresa de comunicação do norte do país) foi autorizado a explorar o trunking no Amazonas, Amapá, Acre e Roraima.

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