São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Campanha pela terra politiza movimento

FERNANDA DA ESCÓSSIA
ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA (ES)

A "Carta da Terra" vai lançar nacionalmente a proposta para a democratização da terra formulada pela Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida e marca uma maior pOlitização do movimento. O documento está sendo aprovado neste fim-de-semana, no encontro do movimento, em Vitória (ES).
A Carta, que a Folha obteve com exclusividade, define o que o movimento chama de "visão ética" sobre a questão fundiária: a democratização da terra como ponto de partida para o desenvolvimento rural, urbano e ambiental.
O sociólogo Herbert de Souza, articulador nacional da Ação da Cidadania (e ausente do encontro por motivo de saúde), assina o texto do documento. A carta tem, na verdade, a forma de um cartão-postal para ser enviado ao presidente da República por quem se identificar com a proposta.
"Assinam esta carta os que desejam mudar a terra, querem democratizar a terra, querem democracia na terra. Mas ainda neste século. Já se esperou demais. A democracia na terra é condição de cidadania", escreve Betinho.
No encontro, 500 mil cópias da carta estão sendo distribuídas aos comitês da Ação da Cidadania em todo o país. A idéia é que cada comitê encontre formas de reproduzir o manifesto, até que milhões de cartas cheguem ao Planalto.
Segundo dados do Ibase (Instituto Brasileiro de Análise Sócio-Econômicas), existem 4,8 milhões de trabalhadores sem terra no país. Cerca de 1% dos proprietários detém 44% da terra.
"Queremos que as pessoas entendam que, assim como dar alimento e emprego, a questão da terra é uma questão ética", diz o secretário nacional da Ação da Cidadania, Augusto de Franco.

Resistências
A "visão ética", que o movimento reforça, suaviza, mas não encobre, as possíveis resistências que a campanha da democratização da terra vai provocar no que se refere à reforma agrária.
Nas campanhas anteriores, de arrecadação de alimentos e geração de emprego, a Ação da Cidadania conseguiu unir representantes de todos os segmentos sociais.
O presidente do Comitê Rio, Maurício Andrade, afirma que a campanha começa a dar um tom mais político à Ação da Cidadania.

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