São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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FHC e Menem querem viabilizar acordo na prática

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DO ENVIADO ESPECIAL A FOZ DE IGUAÇU

Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem (Argentina) admitiram que a integração determinada pelo Mercosul enfrenta barreiras impostas pelas burocracias de Brasil e Argentina.
A prova estava nos 360 caminhões parados ontem na proximidade da ponte Tancredo Neves, que une os dois países, e onde os dois presidentes se encontraram na sexta-feira.
Segundo FHC, o acordo de integração está feito a nível geral. Mas "agora é preciso detalhar, de modo que essa integração tenha um sentido prático na vida das pessoas".
Caminhoneiros ouvidos pela Folha contaram que passam até oito dias esperando a liberação de suas cargas pelas aduanas de Brasil e Argentina.
Fernando Henrique disse que discutiu com menem esse assunto, e ambos concordaram em fazer um esforço de desburocratização.
O embaixador do Brasil na Argentina, Marcos Azambuja, disse que os acordos do Mercosul determinam que as aduanas sejam integradas e funcionem ininterruptamente, de dia e de noite, em feriados e fins de semana.
Isso está longe de acontecer, disse Azambuja. A fiscalização ainda funciona poucas horas por dia e pára nos feriados do Brasil e da Argentina.
Fernando Henrique disse que o comércio entre os dois países vai chegar a US$ 10 bilhões neste ano, contra os US$ 2 bilhões de 1991.
Esse imenso comércio não pode ser atrapalhado por práticas burocráticas ultrapassadas, disse o presidente.
O embaixador Azambuja, também presente nas reuniões de Fernando Henrique com Menem, disse que as aduanas dos dois países sempre foram treinadas para barrar ou dificultar a entrada de mercadorias.
E, de repente, a ordem é deixar passar. "Leva algum tempo para o pessoal se adaptar", comentou o embaixador.
Mas ele admite que a reforma está atrasada. E a situação é pior ainda em Uruguaiana, comentou. As filas de caminhões formam quilômetros.
A passagem do lado brasileiro para o argentino na fronteira pode proporcionar uma espera de dois a cinco dias, segundo os caminhoneiros. No sentido contrário a espera pode se estender por dois a quatro dias.
Na sexta-feira, quando a Folha visitou os postos de fronteira, na aduana comum aos dois governos, havia muito mais funcionários argentinos do que brasileiros.
Estavam lá apenas três brasileiros, um da Polícia Federal, dois da Receita.
Esses funcionários se limitavam a verificavam se alguém estava trazendo compras de mais de US$ 250 —limite estabelecido por lei para isenção de imposto de importação.
Eles se recusaram a dar seus nomes. Perguntados se tinha havido alguma mudança nos procedimentos, não responderam.

LEIA MAIS
Sobre o encontro entre Brasil e Argentina na pág. 1-12

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