São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Palmares busca em Zumbi sua salvação

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES

Autoridades e intelectuais de União dos Palmares, no interior de Alagoas, preparam a segunda vinda de Zumbi. Acreditam que o aniversário de 300 anos de sua morte —que se comemora este ano— possa libertar a cidade da pobreza e do anonimato.
A serra da Barriga, onde Zumbi comandou o quilombo, fica nas terras de União dos Palmares. Na lista de convidados está o presidentes Nelson Mandela e Fernando Henrique Cardoso.
A festa será em 20 de novembro, dia em que Zumbi morreu nas serras de Viçosa, a 50 km dali.
Há poucos sinais na cidade que lembram o herói dos Palmares. Dos 57 mil palmarinos, apenas 2% são negros. No alto da serra ergue-se uma estátua ao guerreiro e uma área de 27 km2 foi tombada pelo patrimônio histórico. Uma faixa diz que ali "repousa um grande herói do passado".
Se revisitasse a serra, Zumbi avistaria do alto 14 mil hectares de cana-de-açúcar —mais de 70% das terras cultiváveis da cidade. No meio do canavial, a fumaça da usina Laginha, da família João Lira-Tereza Collor, lembra os senhores de engenho.
A usina emprega cerca de 5.000 pessoas. Quando termina a moagem, 3.000 ficam sem trabalho.
O prefeito José Praxedes Neto diz que as festas dos 300 anos vão chamar a atenção para a cidade. "Queremos atrair o turista. Zumbi pode nos dar essa força."
O secretário da Cultura Paulo de Castro Sarmento, 40, filho da mais tradicional família da cidade, vem percorrendo as escolas lembrando às crianças quem foi e o que fez Zumbi. O professor Dilson Moreira da Costa, 50, está cético: "Zumbi poderia salvar Palmares, mas já não tenho esperanças".
A comissão dos festejos de Zumbi está sendo formada com atraso. A construção de um memorial está há 14 anos no papel. Por enquanto, a cidade parece mais voltada para Maceió do que para a serra da Barriga. Prefeito, juiz, promotor e muitos médicos se refugiam na capital quando escurece.

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