São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Após séculos, miséria persiste

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Os cortadores de cana da cidade trabalham descalços e recebem R$ 1,27 por tonelada cortada. Cortam seis toneladas por dia. Centenas de meninos deixam a escola para trabalhar nos canaviais.
Os 2.000 funcionários da prefeitura recebem em média R$ 50,00 por mês. Os salários estão atrasados desde dezembro e os professores estão em greve.
Pesquisa do IBGE diz que 66,9% dos chefes de família da cidade ganham menos de um salário mínimo. Das casas de União dos Palmares, 99,9% não tem esgoto tratado, 29% não têm água encanada.
Os meninos continuam lavando os cavalos e as mulheres esfregando roupas no rio Mundaú, como escrevia o poeta Jorge de Lima vinte anos atrás. As cheias do rio continuam derrubando as casas.
Entre os moradores, 55,93% não sabem ler nem escrever, índice duas vezes maior que a média do país.
Os moradores ainda têm dívidas com a "santa". As terras da cidade foram doadas para a Igreja que cobra um foro mensal e uma taxa quando há negócios com imóvel.
"Precisamos de um Zumbi que venha libertar os brancos", diz a doceira Leusa Aguiar Pessoa, 45, que vende potes de doce a R$ 1,00.
(AB)

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