São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hipismo promove a igualdade entre sexos

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O hipismo é o esporte que promove a verdadeira igualdade entre os sexos. É uma das pouquísssimas modalidades esportivas na qual as mulheres competem em igualdade de condições com os homens.
Mais do que igualdade, trata-se de uma guerra dos sexos, já que a disputa é bastante dura entre cavaleiros e amazonas nas principais competições hípicas.
"A mulher não só compete como frequentemente ganha dos homens", afirmou a amazona Cláudia Itajahy Camarão, 33.
"As mulheres são grandes adversárias", afirmou o cavaleiro Vitor Alves Teixeira, 37.
"Quando elas estão afiadas, são terríveis", completou Luis Felipe de Azevedo, 41, sem disfarçar o tom irônico da frase.
"Elas competem com a mesma raça e força de um homem", disse o cavaleiro Bernardo Alves, 20.
Excepcionalmente, Cláudia é a única mulher a participar, neste fim-de-semana em São Paulo, da seletiva de salto para os Jogos Pan-americanos de março, na Argentina.
Ela está enfrentando a concorrência de 14 dos melhores cavaleiros brasileiros.
Os homens serão, assim, maioria na equipe brasileira de salto, mesmo porque o cavaleiro Nelson Pessoa e seu filho, Rodrigo, já estão pré-selecionados.
Mas essa dominação masculina seria difícil nos Estados Unidos. Lá, as amazonas são maioria e dominam a maior parte das competições de alto nível.
A equipe brasileira de adestramento (outra das três modalidades de hipismo que fazem parte dos Jogos Pan-americanos) é, porém, composta por três mulheres e um homem.
Para Cláudia, o segredo da competitividade feminina no hipismo é que, nesse esporte, o cavalo é quem faz força.
"O hipismo não exige tanta força física da mulher. Em outros esportes, prevalece a força, a massa muscular. O hipismo requer sensibilidade e técnica", afirmou.
A única desvantagem física das mulheres pode ser a altura. "Com cavalos grandes, às vezes passo apertos por falta de perna", disse a baixinha Cláudia.
Os cavaleiros têm outras explicações para essa concorrência sem igual no mundo esportivo.
"As mulheres desenvolvem uma comunicação muito grande com o cavalo. Elas têm mais tempo e mais carinho para com o animal. Ele se identifica muito com o sexo feminino", disse Teixeira.
Alves também acredita que a mulher é mais dócil que o homem no trato com o cavalo.
Cláudia não concorda. "Já vi muitas amazonas brutas e que obtêm ótimos resultados. Como também há cavaleiros muito sensíveis. Essa sensibilidade varia de pessoa para pessoa, não de homem para mulher", afirmou.
Para ela, não há como diferenciar tecnicamente um homem de uma mulher. "O estilo, a forma de montar é pessoal, não depende do sexo", argumenta.
Ela contesta também outro argumento de Teixeira sobre competitividade feminina.
Para o cavaleiro, heptacampeão brasileiro, as amazonas levam a melhor em relação ao peso.
"O peso menor é uma vantagem competitiva, apesar de não tão grande como no turfe. Mas acontece de uma amazona ter 20 kg ou 30 kg a menos. Isso às vezes ajuda a ir além das possibilidades técnicas", disse Teixeira.
Para Cláudia, já ficou provado que o peso não influi na prestação de um conjunto (o montador e o cavalo). "Por isso foi abolido o peso mínimo", afirmou.
Ela conta que, quando começou a saltar, tinha de usar sempre uma pesada manta de inverno no cavalo, para poder chegar ao peso mínimo então exigido.
"Na Europa você vê aqueles cavaleiros enormes, fortes, e que saltam uma barbaridade", disse.
Mas Teixeira não questiona a capacidade feminina. "No hipismo, a mulher é tão capaz quanto o homem", disse.
Azevedo coloca um porém. "Na pista elas são tão capazes", disse. Segundo ele, ainda são poucas as mulheres que sabem comprar e tratar do próprio cavalo.
Em compensação, o cavaleiro vê uma vantagem competitiva nas suas colegas femininas. Elas teriam mais facilidade para arranjar patrocinadores.
"A mulher é mais delicada, o que a ressalta ainda mais junto ao cavalo. Isso é mais simpático para os patrocinadores", afirmou Azevedo, atual campeão sul-americano e das Américas.
A participação feminina no hipismo é uma tradição antiga. O esporte começou com a caça à raposa, na Inglaterra. No século passado, as mulheres já acompanhavam os caçadores.

Texto Anterior: Jogo entre Ferroviária e Ponte hoje marca estréias nas duas equipes
Próximo Texto: Seletiva define hoje equipe do Pan
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.