São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Violência conturba o futebol na Inglaterra

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

O futebol inglês volta a enfrentar o fantasma da violência, dentro e fora do campo. O problema retorna com força total numa temporada já conhecida pelos diversos escândalos envolvendo algumas de suas maiores estrelas.
Na última quarta-feira foi suspenso o amistoso entre Irlanda e Inglaterra, em Dublin (capital irlandesa), devido à ação dos "hooligans" (fanáticos e violentos torcedores ingleses).
Isso agravou ainda mais a situação do esporte na Inglaterra, marcado por recentes acusações de corrupção e agressões por parte de jogadores.
Antes do incidente de quarta, a Football Association (FA, a associação de futebol inglesa), já investigava quatro outros episódios ocorridos nesta temporada.
O primeiro grande escândalo envolveu o goleiro Bruce Grobellar, natural do Zimbábue, que joga atualmente pelo Southampton.
No dia 9 de novembro do ano passado, ele foi acusado de deixar passar três gols e receber por isso 40 mil libras (cerca de US$ 64 mil) de organizadores de apostas.
Grobellar atuava no Liverpool quando, no dia 21 de novembro de 1993, seu time perdeu para o Newcastle por 3 a 0. O goleiro defendeu-se das acusações, mas o caso ainda está sendo investigado.
Duas semanas depois das acusações ao goleiro, o atacante Paul Merson, do Arsenal, concedeu uma entrevista a um tablóide londrino em que admitia estar viciado em cocaína, bebidas e jogos.
Para evitar uma severa punição pela FA, Merson se ofereceu para fazer um tratamento em uma clínica de recuperação de viciados.
O jogador mostrou-se recuperado, pelo menos parcialmente, e voltou a jogar no dia 1º deste mês, em partida contra o Milan.
A violência por parte dos jogadores surgiu no dia 25 de janeiro, quando o francês Eric Cantona, a maior estrela do Manchester United, ganhou as primeiras páginas dos jornais com um verdadeiro golpe de kung-fu contra um torcedor do Crystal Palace.
Cantona foi suspenso por toda a temporada e multado em 20 mil libras (cerca de US$ 32 mil), o que não o impediu de dar um segundo chute, desta vez em um repórter de televisão.
O amistoso entre Inglaterra e Irlanda teve a primeira baixa antes mesmo da chegada dos "hooligans" a Dublin. O jogador do Chelsea Dennis Wise foi retirado da lista de convocados depois de ser condenado na Justiça por agredir um motorista de táxi.
Depois da batalha no estádio irlandês, mais um jogador inglês atuou como protagonista de um caso de violência.
Vinnie Jones, do Wimbledon, mordeu o nariz do repórter Ted Oliver, do "Daily Mirror", que teve que fazer um teste de Aids por causa da grande quantidade de sangue derramado.
O presidente da Associação dos Jogadores Profissionais da Inglaterra, Gordon Taylor, disse ter ficado "decepcionado" com os fatos dos últimos meses.
"Esta temporada começou com um bom ambiente e é decepcionante ter casos assim", disse.
"Mas os nossos jogadores são pessoas decentes em sua maioria. Seria ingenuidade achar que no futebol não podem ocorrer problemas deste tipo."
"O caso de Bruce Grobbellar, por exemplo, é uma acusação muito séria, mas está sendo investigado e pode ter sido uma coisa arranjada", disse Taylor.
Apesar dos incidentes com os jogadores, o confronto em Dublin fez a violência dos torcedores voltar a ser prioridade na lista de problemas dos dirigentes ingleses.
O presidente da Fifa, João Havelange, afirmou que, se depender da entidade, o Campeonato Europeu, em 96, será realizado na Inglaterra como previsto.
Antes disso, a seleção brasileira deverá ter a chance de experimentar a receptividade dos ingleses, num torneio programado para o mês de junho, em Londres.

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