São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Ainda no vermelho

O terceiro mês consecutivo de déficit comercial mostra que os efeitos da valorização do real e da rápida redução das tarifas de importação foram maiores do que o governo dizia esperar.
Segundo declarações das autoridades, pretende-se obter este ano um superávit comercial de pelo menos US$ 5 bilhões para compensar parcialmente os pagamentos de juros da dívida externa, de cerca de US$ 12 bilhões em 1995. O déficit de janeiro foi um mau começo.
A elevação das alíquotas de importação de automóveis mostra que o governo está atento ao balanço de pagamentos. Mas ainda não se sabe se as medidas tomadas até o momento são suficientes.
Os estímulos financeiros concedidos aos exportadores servem de compensação à queda do dólar. Hoje, portanto, as eternas queixas dos exportadores em relação à taxa de câmbio não se justificam. O alongamento de prazo dos chamados Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACCs) permite que o exportador receba o rendimento de alguns meses de juros, antes que a venda da mercadoria se concretize.
Esse expediente, entretanto, funciona apenas enquanto os juros no Brasil forem mantidos bem mais altos do que as taxas internacionais. Ademais, o adiantamento financeiro faz com que as divisas entrem no país antes do efetivo embarque das mercadorias exportadas.
Assim, o Banco Central pode contar hoje com as divisas de vendas ainda não concretizadas. No futuro, porém, ocorrerá o inverso. Com a redução dos juros ou dos prazos dos ACCs, a entrada de divisas será inferior à remessa de mercadorias. O simples adiantamento financeiro, evidentemente, não muda o valor total das exportações.
Ao reduzir drasticamente os fluxos financeiros para a América Latina, a crise mexicana abalou um dos pilares do Plano Real. Pretendia-se conter os preços através da competição maciça de importados. Essa estratégia perdeu fôlego. É preciso ter agilidade para adaptar a política de estabilização a um cenário externo mais adverso.

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